quinta-feira, 3 de abril de 2014

Terceirização dos Filhos

Outro dia li esses textos excelentes da Mariana Sgarioni (A criança terceirizada e A criança terceirizada[2]: a confissão das babás) e fiquei horrorizada ao tomar conhecimento de que muitos pais entregam totalmente a responsabilidade de amar, educar, proteger seus filhos a outras pessoas.

Sejamos honestas, é óbvio que todo mundo sabe o que os espera no mundo materno/paterno, ao menos o mínimo como: troca de fraldas, choro do bebê (e da criança maior), madrugadas insones e tantas outras coisas que as pessoas fazem questão de nos dizer junto a frase irônica e ridícula "aproveita agora, porque depois..." (odeio essa frase, como se a maternidade fosse um fardo insustentável) assim que comunicamos a gravidez, então não dá pra dizer "se eu soubesse não teria sido pai/mãe".

Não acho que alguém precise parar de trabalhar, estudar ou mesmo de se divertir porque teve um filho, só penso que essas coisas podem ficar ainda melhores e mais divertidas, podem ser um desafio excitante. Será que não tem como mesmo reorganizar os horários de forma a comparecer a uma reunião de escola? Por que perder ou delegar a outros (que não o pai) a descoberta do que minhas filhas vem aprendendo e desenvolvendo na escola? Uma viagem a dois é muito bom, mas em família pode ser inesquecível, a gente se cansa mais? Claro, mas também tem recordações maravilhosas das descobertas das crianças. 

Com isso não quero dizer que um cuidador amoroso eventualmente não possa ajudar a satisfazer nossas necessidades de saídas noturnas, jantares a dois... estou falando sobre delegar integralmente a responsabilidade sobre aquela pequena pessoa tão desejada, esperada e imaginada (eu acho rsrs por aqui foi) a outro que não seja eu ou meu marido - os pais. Temos nossas necessidades de conversar, tomar um café sem ser interrompidos? Claro, quem não tem? Mas somos adultos, estamos há um bom tempo nesse mundo maluco e aprendemos a lidar com nossas frustrações (ou quase rsrsrs), mas e as crianças, especialmente os bebês? Se a vida é tão cruel, e se vamos passar tanto tempo de nossas vidas como adultos, me pergunto por que adiantar as coisas? Por que os bebês e crianças não podem ter suas necessidades atendidas o máximo possível? Repito que acho possível satisfazer pais e filhos para que todos possam ser felizes, não acredito que um pai/mãe frustrado/infeliz seja capaz de atender as necessidades de uma criança.

“Em nossa sociedade já não se pode falar em patriarcado e matriarcado. O que temos realmente, salvo exceções interessantes, é a ausência de definições de papéis, de quem assume o que em relação à família ou aos filhos. As pessoas vivem com medo de ser criticadas, de assumir que tiveram a coragem de fazer uma opção pela família. O que se propõe? A volta da mulher à condição de dona de casa e rainha do lar? Claro que não, o que se propõe é a conscientização da paternidade e maternidade. Crianças choram a noite, nem sempre dormem bem, precisam de cuidados especiais, de limpeza, de banho, alimentação, ser educadas e acompanhadas até idade adulta. Será que todos os seres humanos precisam ser pais? Sejamos sinceros, nem todo mundo está disposto a arcar com esse ônus. Talvez seja melhor adiar um projeto de maternidade, e mesmo abrir mão dessa possibilidade, do que ter um filho ao qual não se pode dar atenção, carinho e, principalmente, presença constante.” (A Criança Terceirizada, José Jose Martins Filho)