sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Entre raios e trovões eu me libertei (relato de parto)


Sempre que me imaginei sendo mãe, pensava em um parto normal (eu só conhecia dois termos: cesárea e normal), não me via fazendo uma cesárea. Em dezembro de 2007 nos descobrimos grávidos e muito felizes. Essa primeira gravidez correu perfeita, nada de pressão alta, diabetes gestacional ou qualquer coisa que pudesse impedir meu parto normal (que eu tinha 100% de certeza de que aconteceria, era tudo o que eu queria) e assim cheguei a 40ª semana e fui à consulta pré-natal, o médico então me disse: “Sua bebê não está encaixada, você não tem dilatação e não vou mentir a bebê não é pequena. Posso esperar no máximo até domingo”. Na hora minha cabeça deu um nó, pensei: “Puxa! Deu tudo tão certo até agora e vai que por um capricho meu acontece alguma coisa com meu bebê!” e concordei com a cesárea. Fiquei triste, frustrada, como meu corpo pôde ser tão incompetente a ponto de não ter dilatação? De não permitir que meu bebê encaixasse? Puxa, meu tampão tinha caído e de acordo com os cursos de gestantes que eu havia feito era pra eu ter o parto normal quando isso acontecesse. O quê havia de errado comigo? Remoí isso por muito tempo e acredito que pode ter sido uma das contribuições para minha depressão pós-parto. Até que um dia me conformei e achei que talvez tivesse sido melhor assim mesmo.

Passados um pouco mais de três anos decidimos que era o momento de termos mais um filho, e assim que me descobri grávida a dúvida e o medo apareceram juntos: eu queria ainda ter um parto normal, mas será que depois de uma cesárea eu poderia? Seria capaz de aguentar? Comecei a pesquisar e em uma dessas pesquisas conheci o Grupo Vínculo e com 26 semanas de gestação, no dia 15 de setembro fomos ao nosso primeiro encontro, e não vou mentir sai de lá frustradíssima porque embora fosse algo que eu quisesse muito (meu marido não tinha certeza se queria, tinha medo de que eu sofresse) era completamente fora da minha realidade financeira, mas mesmo assim continuei indo aos encontros que eu podia (sempre saindo meio triste) e tentando pensar como eu poderia fazer. Eu tinha descoberto algo novo: o parto natural, nem sabia que isso existia!

Nesse período fui conhecendo pessoas pelo Facebook, fazendo parte de grupos e muitas pessoas foram me incentivando, indicando pessoas que pudessem me ajudar a realizar esse sonho e eu sempre tentava o contato, mas sempre acabava frustrada, desanimada, era fora da minha realidade, a empresa em que eu trabalhava havia me demitido com 4 meses de gravidez e meu marido tinha que arcar com tudo sozinho. Eu já havia me conformado com uma possível cesárea, minha médica havia aceitado realizar o parto normal (com direito a episiotomia, posição obstétrica e anestesia) mas disse que aguardaria só até a DPP e depois era cesárea, fiquei angustiada, era frustrante demais você querer algo e não poder. A Marilyn, uma das pessoas que conheci pelo Facebook , foi me dando apoio, disse que eu poderia ligar para ela para o que eu precisasse porque para conseguir um PN eu precisaria de ajuda, mas eu não podia incomodar. No dia 13 de dezembro, já com 38 semanas, fui buscar minha filha na escola chorando porque meu prazo estava acabando e com ele minhas esperanças. À noite no Facebook conversei pelo bate-papo com a Marilyn ela disse que tinha novidades e me ligaria mais tarde, e realmente tinha! Ela ia me ajudar junto a Mirian e várias outras pessoas maravilhosas a ter meu tão sonhado PN. Fiquei feliz, sem chão, envergonhada em dar tanto trabalho a pessoas que eu não conhecia há muito tempo, mas que estavam me dando tanto carinho, foi um caminhão de emoções, nessa noite nem consegui dormir. Fui às consultas, esperei, comecei a ficar ansiosa, imaginando como poderia ser.

No dia 24 por volta da meia noite começaram minhas primeiras contrações, caiu meu tampão, mas eu não quis ligar para a Mirian, onde já se viu ligar para uma pessoa nesse horário? Mandei mensagem pelo Facebook e sms para ela e passei a noite em claro por causa das dores, mas por volta das 6h35 elas ficaram bem fortes e achei que poderia ser a hora, então liguei para a Mirian que veio para minha casa. As contrações que eram ritmadas foram se espaçando e ficando mais fracas, caminhamos e nada, cheguei a mandar minha filha mais velha para a casa da minha mãe pensando que fosse a hora, mas não era... Às 5h30 da manhã do dia 25 percebi que realmente não era a hora e muito chateada fui dormir. Passei o dia todo muito triste, envergonhada por ter dado tanto trabalho à toa. Os dias foram passando e nem uma contração pequeninha, cheguei a ir caminhar com a Mirian e a Karina na Lagoa dia 26 para ver se engrenava e enquanto caminhávamos as duas lembraram de uma gestante que entrou em TP dia 24 assistindo “Parto Orgásmico” e na volta a Mirian emprestou o DVD para eu assistir.

No dia 27 de dezembro assisti no comecinho da noite o filme “Parto Orgásmico” e por volta das 21h30 as contrações voltaram bem mais fortes que as do dia 24, houve momentos em que eu chorava e pedia para meu marido “por favor tira, tira, tira”, ele chamou minha Doula Mirian que veio junto com a Adriana que é Enfermeira Obstetra, elas passaram toda a madrugada comigo com as contrações vindo e voltando, os três (Marido, Doula e Enfermeira Obstetra) sempre me animando e fazendo massagens para ajudar a aliviar a dor, a Adriana fez o primeiro exame de toque, meu colo ainda estava duro e eu tinha só 1 cm de dilatação, então ela me aconselhou a descansar um pouco e comer alguma coisa que voltaria mais tarde com a Mirian. Elas voltaram mais tarde, mas eu não tinha conseguido descansar muito, o máximo 30 minutos, deitada as contrações doíam muito mais. Enquanto estavam comigo, em uma das contrações a Adriana percebeu que eu segurava a barriga porque o peso e a sensação de alguém forçando me incomodavam aí ela usou o rebozo que ajudou bastante a aliviar essa sensação. Tive contrações fortes que ritmavam, mas depois espaçavam durante os dias 27 e 28 e parecia que de novo era um alarme falso.

No dia 29 de madrugada a Mirian e a Olivia (Enfermeira Obstetra) vieram em casa e a Olívia checou minha dilatação: 1 cm e o colo já havia afinado! Como assim? Dói muito e só isso?!  Ai eu já não aguentava mais eram quase 48h de TP e nada! Estava me esforçando para não desistir, eu já não conseguia comer, dormia alguns minutos, e assim foi todo o dia 29 até por volta das 18h30 quando baixou a malucona em mim, durante uma das contrações olhei para meu marido, soquei a parede e disse: “quero ir para a Maternidade agora!”, eu entrei no chuveiro sem vontade nenhuma de sair e ele ligou para minha Doula, a Mirian, detalhando o que estava acontecendo e o intervalo das contrações. Eu me sentia desamparada, cansada e a beira de desistir, só queria que tudo acabasse. A Mirian pediu para que meu marido me perguntasse algo que, sinceramente não me recordo, mas eu estava tão irritada que nem consegui responder, a cada nova contração a única coisa que eu conseguia era uivar, literalmente. Minha Doula achou então que era hora de irmos para a Maternidade, ela avisaria a Dra. Mariana e nós nos encontraríamos lá.

Daniel foi ajeitando o que faltava, fechando janelas e quando ia ligar para o taxi, minha irmã ligou avisando que tinha voltado de viagem, quando ele disse que estávamos ligando para o taxi para ir à Maternidade ela disse que nos levaria e quando chegou ao nosso apartamento deve ter se assustado com meus uivos, eu já não tinha mais condições de ser simpática ou responder perguntas, simplesmente não queria responder, estava cansada, irritada e queria que tudo acabasse logo. O trajeto até a Maternidade me pareceu uma eternidade, no caminho quando vinham as contrações o carro parecia encolher e me apertar, não havia posição, em uma delas eu disse “quero descer” e se a porta abrisse por dentro talvez até saísse do carro em movimento mesmo.

Chegamos à Maternidade juntos com a Mirian e assim que entrei a Marcela (Enfermeira Obstetra) já me aguardava e me acolheu como uma leoa, não permitindo que outras pessoas, exceto Dra. Mariana, me examinassem evitando assim procedimentos desnecessários. Ela me ajudou a aliviar a dor das contrações com massagens, me orientou a respirar entre uma contração e outra, me incentivou... e cuidou de mim quando eu quis tirar a roupa no meio da recepção rsrs. Tudo que a minha Doula já tinha feito por mim, mas que no auge da dor eu já havia esquecido. Quando a Dra. Mariana fez o exame de toque me perguntou animada quantos centímetros de dilatação eu achava que estava, sinceramente eu achava que não tinha nenhuma e não me animava a chutar, mas eu tinha, estava com 9 cm, nem dava para acreditar porque durante o dia as contrações foram menos frequentes e mais fracas do que eu tinha enfrentado nos dias 27 e 28. Subimos para o C.O. e a partir daí perdi a noção do tempo, deveria ser umas oito da noite, um das enfermeiras me deram uma daquelas camisolinhas, ajudou a tirar minha roupa e a vesti-la, à toa porque assim que entrei no C.O. tirei aquela porcaria, irritava aquilo roçando minha pele. Deitei, sentei, levantei, andei, encostei, fiz tudo o que tive vontade. Todas me dizendo que eu podia, que faltava pouco, que cada contração era menos uma, me ajudando com massagens e me lembrando de respirar a cada intervalo das contrações (coisa que eu sempre esquecia), e sempre verificavam os batimentos da bebê, garantindo que tudo estivesse correndo bem. A Dra. Mariana verificou mais uma vez a dilatação e viu que minha bolsa ainda não tinha rompido, perguntou se eu queria que rompesse, pois poderia ajudar no TP e eu pedi para romper.

Para ajudar no trabalho de parto me orientaram a cada contração agachar o máximo que pudesse, mas eu não conseguia, estava com medo não sei do quê, então me ajudaram ficando uma por trás para eu me jogar nos braços dela e Dra. Mariana me segurando os braços de frente, mas fiquei com medo de cair e o “de sei lá mais o quê” que não ia embora. Daniel entrou no C.O. e me senti totalmente amparada, era a pessoa que faltava. Aí tiveram a ideia de fazer uma espécie de cordão com um pano que eu puxava quando vinham as contrações e me jogava para trás amparada pelo Dani. Em um desses momentos a Ariella coroou e puseram o espelhinho para eu ver o cabelinho e ter ânimo para fazer força, mas eu não queria ver nem tocar, queria mesmo que aquilo acabasse e eu pudesse ter minha filhinha nos braços. Nem senti o tal círculo de fogo tamanho cansaço e vontade de que tudo acabasse. Tive mais uma ou duas contrações e às 22h01 do dia 29/12/2012 minha filha nasceu inteira, não saiu primeiro a cabeça e depois o corpo, foi tudo de uma vez. Quando ela começou a nascer ao mesmo tempo começou uma chuva forte, com raios e trovões altos, me disseram que foi até engraçado porque soltei um urro (não me lembro disso) e em seguida houve um trovão no mesmo instante que Ariella nascia.

Assim que Ariella nasceu pareceu que os raios e trovões diminuíram, imediatamente colocaram nos meus braços aquela pessoa tão pequena cheirando a parto ainda presa pelo cordão umbilical e nesse exato momento esqueci as dores, o cansaço ou qualquer coisa que eu tivesse passado, a única coisa que senti foi amor, felicidade e realização. Como é maravilhoso poder parir! A equipe teve muito respeito com nosso momento, parecia que só nós estávamos na sala, o cordão foi cortado pelo papai somente quando parou de pulsar, só foram feitos com a pequena os procedimentos necessários e descemos juntas para o quarto, foi tudo tão bem que ela é uma criança muito tranquila e no dia 31 à tarde pudemos ir embora para casa.

A presença de uma Doula durante o TP faz toda a diferença, ela nos ajuda a lembrar de que toda mulher nasce com o dom de parir, nos apoia, conforta, ajuda a aliviar nossas dores. Em um dos momentos mais importantes da vida de uma mulher ela precisa receber: carinho, confiança e necessita que todos (amigos, parentes, equipe) acreditem e reforcem sua capacidade de parir. Uma equipe humanizada durante o parto é importante para garantir à mãe, ao bebê e também ao pai todo o respeito que o momento e que a família merecem, e tudo isso eu pude ter e agradeço muito.

Passei por uma cesárea antes de conseguir meu PN e posso dizer que não trocaria o segundo pelo primeiro, isso não quer dizer que a cesárea não tenha sua importância, tem sim porque muitas vidas foram salvas por ela, mas se tudo corre bem por que fazer cirurgicamente algo que a natureza pode fazer muito melhor? Por que não permitir que o bebê escolha seu momento de conhecer o mundo? Por que expor ao risco duas pessoas saudáveis?


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Ser mãe é reaprender todos os dias

Já fazem 12 dias que minha pequenina nasceu de um PN que eu, sinceramente, acreditava que não seria capaz de conseguir por diversas razões: financeiras, psicológicas, fisiológicas... Havia várias pessoas confiando de que eu podia, mas as pessoas que eu mais precisava que acreditassem não acreditaram, após minha libertação joguei para uma delas "todo mundo achava que eu não conseguiria, mas eu consegui". Esse foi um dos primeiros reaprendizados que tive: como mãe posso muitas coisas inclusive passar por um TP de 48h e um PN sem analgesia.

Agora estou reaprendendo a lidar com bebê, a amamentar. Minha filha mais velha tem quatro anos, vamos combinar que é um espaço considerável e muitas coisas mudaram desde a época que Hannah nasceu, por exemplo, os médicos diziam que tínhamos que colocar os bebês deitados de lado, agora tem uns que dizem que deve ser de barriga para cima, podem se decidir por favor? Quer saber? Coloco do jeito que meu instinto de mãe mandar. É tenho instintos, poucos mas tenho.

Amamentar tem sido a tarefa mais árdua para mim, os bicos fissuraram e me lembrei de como a dor é horrível quando tem uma pessoazinha sugando. Dá vontade de falar palavrão, de esmurrar alguma coisa, gritar e até fazer xixi nas calças, mas eu sou uma mulher civilizada (só um palavrãozinho entre sussurros). Achei que seria bem mais fácil porque já amamentei antes, que não teria as benditas fissuras mas surpresa elas vieram. A pediatra me disse que a pele do seio volta a afinar depois que você pára de amamentar, que legal! Só agora me dizem isso! Teria me preparado psicologicamente para passar por isso de novo, isso arde pow! Eu tenho necessitado de toda minha força de vontade para não desistir, amamentar é sim muito prazeroso, desde que você não tenha fissuras.

Com minha primeira filha a parte mais difícil foram as fissuras, mas ela mamava bem pegava um seio daqueles bem durão de leite e acabava com ele até ficar murchinho, mas minha segunda tem uma preguiça danada de mamar, mama, dorme, larga... As pessoas me dizem "você tem que estimulá-la, mexer na bochechinha, nos pezinhos, tirar a roupinha", rá e vocês acham que não faço isso? Quem disse que ela acorda? Quando disse à moça do BLH que ela levava às vezes mais de uma hora para mamar ela não acreditou mas quando viu a bebê em ação ficou boquiaberta e disparou: "esse é o ritmo dela". Deeerrr e eu que sou a mãe dela não sei? Afffeeee mania que esse povo tem de não acreditar. A baixinha tem tanta preguiça de sugar que lambe, lambe, lambe o seio porque ela descobriu que fazendo isso cai leite na boca dela, taí para quem diz que bebê não entende das coisas. Tudo isso para dizer o aprendizado números dois e três: bebês não nascem aprendendo a mamar e nenhum bebê é igual a outro (mesmo sendo seus filhos). Ah eu meio que sabia disso, mas tinha esperanças de que comigo fosse diferente, doce ingenuidade.

Aprendi que não gosto mais de desenhos tanto quanto eu gostava, na realidade prefiro assistir jornal, documentários, esses programas chatos de adulto, eu achava que nunca gostaria disso, mas agora gosto e entendo porque minha mãe ficava tão chateada de ver desenhos. Também não gosto mais de brincar de bonecas e fiquei realmente chateada por isso, achava que era a brincadeira mais legal do mundo e agora não acho mais, pique-esconde me dá sono (bom, nunca gostei muito mesmo porque não conseguia achar bons esconderijos e nunca fui rápida o suficiente para bater livre). Coitadinha da minha filha! Ela ama bonecas e pique-esconde...

Descobri que consigo ter paciência quando ela já quase não existe mais e que consigo ser meiga e até dócil, quem diria? Saraiva em pessoa ser meiga? Dócil? Hannah tem me ensinado muita coisa, a parte ruim é que com isso acabo cometendo erros enormes com ela, eu esperava não cometê-los, achava que quando fosse mãe não cometeria os erros de meus pais, eu sinceramente jurava que não os cometeria, mas cometi e cometo os mesmos erros.

A coisa mais importante que aprendi com minhas filhas é que sempre há amor para quantos filhos vierem. Alguém pode dizer "avá que você não sabia disso", até sabia mas quando você se dedica exclusivamente para uma pessoa por quatro anos acha que pode não sobrar para outra. Quando estava grávida não conseguia conversar com minha barriga, acariciá-la porque achava que estaria "traindo" minha filha, mas no primeiro segundo que Ariella nasceu e a colocaram em meus braços pude perceber que havia amor para ela também, a amo tanto quanto a Hannah e assim como a ela adoro seu cheiro, sua voz, sua pele, seus olhos... Para mim são as pessoas mais lindas e importantes do mundo. Amor é elástico quando se trata de filhos, é como dizem "coração de mãe sempre cabe mais um".