quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Vergonha Alheia

Outro dia olhando as fotos que postei das minhas filhas em uma rede social senti vergonha, não por mim mas por elas, e olha que geralmente eu sou bem seletiva com fotos e vídeos, guardo (pelo menos eu achava que sim) as mais desconcertantes só para mim.

Quando nos tornamos mães parece que esquecemos que já fomos filhas, que aquela mini pessoa tem vontades, sentimentos, vergonhas... assim como nós. Lembra como era constrangedor sua mãe contar para suas amigas ou namorado aquelas arteirices, gafes ou mesmo mostrar aquelas fotos que você gostaria que nunca tivessem sido tiradas? 

Já parou pra pensar que às vezes fazemos pior com nossos filhos? "Nãoooo, eu nãooo". Faz sim! Eu fiz, e estou me policiando pra não fazer mais. Quem nunca contou para tooooodoooooos os amigos da rede social, daquele grupo de mães ou até publicamente que seu filho fala "boiaba" que atire a primeira goiaba, que nunca postou uma foto da cara melequenta de doce (sorvete, chocolate, etc.) ou da arte do dia? Hum?! Hahaha se entregou né?

Tentou imaginar que essa miniatura de pessoa que hoje tem meses ou poucos anos daqui a algum tempo já estará um adolescente e todas as lindezas que a mamãe  e o papai postaram na web estarão disponíveis para a zuação dos amigos (e inimigos)? A gente não vai ter nem o trabalho de constrangê-los em casa, faremos na internet rsrs (sem querer, mas teremos feito anos antes). E como aquela sua amiga vai conseguir olhar aquele rapagão barbado sem segurar o riso ao lembrar do vídeo que foi compartilhado alguns anos atrás dele correndo pelado pela casa, com um penico na cabeça gritando "eu sou o menino maluquinho"?

Se tentarmos esquecer por um momento que somos mães, que achamos mega fofas as gafezinhas, caretas e arteirices, vamos conseguir perceber que, apesar de fazermos sem maldade alguma, estamos constrangendo nossos filhos e futuramente eles poderão se ressentir muito conosco por termos agido dessa forma. De agora em diante vou me esforçar ao máximo pra filtrar o quê publico sobre minhas filhas e tentarei me colocar no lugar delas imaginando o quanto isso me constrangeria e se ao menos um pouquinho me envergonhar vou optar guardar a foto para quando eu estiver velhinha, puder olhar pra ela e lembrar de como minhas meninas foram crianças engraçadinhas e adoráveis. Eu estou tentando me policiar, e você?


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Ter filhos é caro?

Quando engravidei da minha filha mais velha recebi uma série de "dicas" como: "aproveite para dormir muito agora porque depois...", "não fique pegando muito no colo, senão mima demais a criança", "não coloque para dormir na sua cama porque isso acaba com a vida do casal" - conselhos completamente dispensáveis e inverídicos (ao menos no MEU caso), mas esse não é o foco, um dos que mais nos preocupou foi "xiiiii, filho dá um gasto! É fralda, leite, escola..., faça economias, abra uma poupança!", juro que cheguei a perder o sono e fiquei pensando "meu Deus, de onde vou tirar o dinheiro?" a vida já era bem difícil sem filhos, com eles então... o quê seria de nós?

Vamos por partes rsrsrs Hoje mais velha, mais amadurecida, mais experiente posso refletir melhor sobre o assunto e concluir que não é beeeem assim. Vou falar primeiro do leite: com a primeira filha a falta de experiência, a ingenuidade, a falta de informação e de confiança me fizeram dar "complemento" aos 3 meses, isso porque eu precisava voltar à faculdade e a pessoa que ficaria com minha filha no horário das aulas não deu o apoio que eu precisava (hoje sei que não foi por maldade, mas por não ter informação adequada) e eu fiquei nervosa com isso, coincidiu com o primeiro grande salto de desenvolvimento, meu seio que até pingava leite da noite para o dia "murchou" e se ajustou à demanda de minha filha (coisa que eu não sabia), desesperada pedi ajuda ao pediatra que não me apoiou/explicou sobre isso e achou mais fácil receitar o "complemento", resultado disso tudo? Gasto enoooormeeee com leite artificial que, vamos combinar, minha filha não precisava. Aí elimino primeiro gasto da lista, a segundinha no alto de seus 8 meses nunca soube gosto, cor, cheiro de leite artificial, pois munida de informação não permiti que isso entrasse em sua vida, mesmo o pediatra receitando com menos de um mês porque minha filha não ganhava o peso de acordo com a curva (oi?).

Outro grande gasto é o de fraldas, que quando boas são caras além do prejuízo ecológico, com a mais velha foram caixas e mais caixas, a segunda usa menos mas também já gastei um bom tanto (sorte que ainda estou usando as do chá de fraldas) e vou começar a gastar menos ainda, porque descobri as fraldas de pano modernas que são bem mais práticas e bonitas do que as usadas por nossas mães no passado. A princípio, tenho que confessar, tive um certo preconceito, achei meio retrógrado, e fiquei pensando como eu as secaria no meu nano apartamento na mais que minúscula área de serviço, mas depois de conversar com quem as usa, participar de grupos descobri que não é um bicho de sete cabeças e vale o investimento inicial, que é meio alto mas compensa a longo prazo.

Claro que estou falando das MINHAS escolhas, cada um faz o quê acha melhor, como acha melhor, se acha melhor. EU estou feliz com as escolhas que fiz e desde que não afetem a mim, minhas filhas e minha família, não me interesso pelas escolhas alheias. 

O quê eu percebi que realmente economiza é na escolha do que minhas filhas irão consumir, nisso eu incluo alimentos e brinquedos. Para quê gastar uma quantia realmente alta em um tapete de atividades se um "cafofinho" feito com edredons é muito mais gostoso? Por que pagar uma fortuna em um brinquedo lindo, pedagógico, com luz, som e sei lá mais o quê se uma simples fita de cetim faz a felicidade da minha pequena? Qual o sentido de comprar um duende que conta histórias se eu mesma posso lê-las para minhas filhas, todas aconchegadinhas no colchão? Por que pagar caro em um biscoito só porque tem vitaminas, ferro... se eu posso cozinhar (ao mesmo tempo que preparo o almoço/jantar da família) um bolo, biscoito ou algo simples e gostoso que contém um ingrediente que nenhuma indústria é capaz de produzir: amor de mãe.

Vendo uma propaganda de uma mesa de atividades outro dia comentei com meu marido "olha amor, que lindo!!!", aí parei, pensei e disse pra ele "essas propagandas não são feitas para as crianças, são feitas para os pais pensarem que precisam disso e nossa filha realmente não precisa. As crianças da nossa geração e as anteriores desenvolviam muito melhor sua motricidade sem precisar desse tipo de coisa".

As coisas são bem mais simples do que parecem, a gente é que complica, e só descobri isso (infelizmente) com a segunda filha. Na minha primeira gravidez fiz planos, tive sonhos, imaginei coisas mil vendo aquelas revistas sobre bebês, me frustrei porque não pude realizar nada daquilo. O quartinho perfeito com nuvens pintadas no teto, berço, cômoda e guarda roupa combinando, trincando de novo, enxoval maravilhoso escolhido peça a peça, ensaio de gestante, ensaio de newborn... o quê minhas posses permitiram: estrelinhas compradas em lojinha barata coladas no teto, berço semi novo ganho na vaquinha do pessoal do departamento do marido, cômoda que foi do meu primo depois da minha avó recauchutada com pintura feita pelo marido e puxador de borboleta baratinho comprado em loja de artesanato, guarda roupa só teve um que era nosso depois que ganhamos um usadinho maior, enxoval de roupinhas usadas (praticamente novas) vindas de amigos e parentes (comprei uma ou duas peças, o restante das novas foram recebidas de pessoas que vinham visitar ou mandavam de presente), fotinho de grávida tirada do jeito que foi possível com a câmera velha, fotos do nascimento e do recém nascido tiradas com a máquina emprestada da minha irmã (só tivemos condições de comprar uma nova e melhor quando Hannah tinha 5 meses, e ainda assim mega parcelada), apesar disso tudo (que me frustrou por muuuitoooo tempo) nossa filha cresceu feliz, bem, saudável ou seja, não precisava de nada daquilo que eu achei que precisasse e que me chateava cada vez que as pessoas me diziam que aquilo era bobagem (agora eu concordo com elas).

O quê eu quero dizer com tudo isso? Que minhas filhas não precisam de tapete de atividades, duende que conta história ou qualquer outra coisa que tira a graça da infância e me afasta da maternidade. Eu posso dar tudo de melhor à elas sem me render ao que as empresas querem que eu pense ser necessário, posso me sentar ao lado da cama de minhas filhas e ler histórias com elas, podemos inventar brincadeiras, criar cafofos e cabanas de lençóis, travesseiros e edredons e nos divertirmos tanto quanto se tivéssemos brinquedos caros e que logo serão esquecidos. A "dica" de que ter filhos é caro e necessita de preparação financeira acaba não sendo tão verdadeira quanto eu acreditei por tanto tempo, a experiência e maturidade hoje me permitem ver as coisas de outra forma, e creio que daqui há alguns anos melhor ainda. A lição que tirei disso tudo? SIGA SEUS INSTINTOS - SEMPRE, ouça conselhos e dicas mas filtre e guarde só o que for realmente útil.

terça-feira, 9 de julho de 2013

"Lefante"

Três biscoitos wafles ajeitados cuidadosamente por ela no pote:
- Mãe, o quê é isso?
- Um barco?
- Nããããõo, que é?
Inúmeras tentativas depois, ela dá a dica:
- Ele é "zul" assim (aponta minha camiseta), tem um negocinho assim e faz "vuuum".
- Uma moto?
- Nãããooo, que é?
Depois de muitas tentativas:
- Não sei filha, o quê é?
- Um "lefante" - diz com a cara "é óbvio".

Para onde foi minha imaginação? Lembrei do livro de Antoine e cheguei a conclusão de que estou na triste idade de pessoas que não são mais capazes de ver carneiros em caixas, elefantes engolidos por cobras, elefantes feitos em biscoito wafler ou qualquer coisa que dependa da imaginação pura, ingênua, simples.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Gentilmente Violentada


Esses dias estava lendo o artigo "Violência no Parto" no site Bebê.com.br da editora Abril e me identifiquei muito, relembrei de algumas situações que vivenciei, tirando a parte de "parto cesárea" (que não é parto é cirurgia), o texto é muito bom. 

"Por estar focada no nascimento do seu filho, a vítima pode não se abalar tanto com a violência obstétrica no momento em que a sofre. Porém, aquela situação pode gerar um trauma futuramente. “Os sintomas podem ser vários, como não conseguir mais transar com o marido, ter uma depressão pós-parto, pesadelos, entre outros”, explica Iaconelli."

O meu primeiro nascimento foi frustrante porque desejava um parto "normal" e acabei eu uma cesárea eletiva completamente desnecessária. Eu sentia que faltava alguma coisa, mas nunca passou pela minha cabeça que tivesse sofrido violência, com tanta fofura e delicadeza fica difícil, você acredita que aquilo é realmente necessário, que sua filha e você podem morrer ou algo de muito ruim pode acontecer.

Relembrando o dia do nascimento da minha primeira filha percebo que toda a minha família foi violentada: EU porque não queria uma cesárea e fui tangida para ela, amarrada entre outras coisas que eu acreditava ser para me proteger (e não era), meu MARIDO porque quase perdeu um dos momentos mais importantes nossas vidas só porque "esqueceram" dele, o "perderam" pelo hospital - lembro de perguntar "cadê meu esposo?" várias vezes e a resposta "estão chamando ele mãezinha" e em nenhum momento esperaram ou realmente o procuraram, foram colocando soro, aplicando anestesia, ligando parafernália, meu marido entrou no centro cirúrgico me encontrou já "aberta" (coisa que juram a todos os pais que nunca verão, sorte que ele não se impressiona) e só conseguiu entrar porque por acaso encontrou com o GO no meio do caminho que perguntou "o quê você está fazendo aqui? arruma uma roupa pra ele" -, minha FILHA porque teve o primeiro contato com gente estranha e suas bactérias, foi aspirada, uma série de procedimentos padrão e sem necessidade para um bebê saudável, filha de mãe saudável e com uma gravidez tranquila e saudável, não pode mamar ou receber colo de sua mãe assim que nasceu, que foi para um berçário durante várias horas (talvez até tenha recebido outro leite sem minha autorização), que quando o pai a acompanhou (ele teve que decidir se deixava a esposa ali indefesa, mas capaz de gritar ou ia atrás do bebê - que poderiam dar sumiço, trocar, ou sabe-se-lá o quê - sorte que a mãe aqui o ajudou a se decidir e disse"vai atrás"), quando a pequena segurou sua mão e parou de chorar porque se sentia segura foi repreendido pela enfermeira "deixa paizinho, ela precisa chorar para limpar o pulmão".

No meu segundo nascimento e primeiro parto, me redimi, me libertei e pude realmente sentir a maternidade em sua plenitude. Gostaria muito que TODAS as mulheres pudessem ter o mínimo de carinho e respeito que recebemos da equipe que esteve comigo.

sábado, 20 de abril de 2013

Carta para minha Filha

Minha filha às vezes você pode pensar que eu não te amo, mas quero que saiba que meu amor por você vem de muito antes da possibilidade de sua vida existir, nos meus sonhos e brincadeiras de criança a menina que eu imaginava era você: bonita, inteligente, forte, decidida, de opinião... Quando eu e seu pai decidimos que era o momento de sua vinda, antes mesmo da concepção, nós já a amávamos.

Sei que mesmo te amando muito cometo grandes e irremediáveis erros, a vontade de acertar é tão grande que o erro vem no mesmo tamanho, não peço que me perdoe mas que me compreenda. Os erros são meus mas a dor é sua, por isso a escolha de me perdoar ou não também é sua e sei que hoje, aos quatro anos, você não será capaz de me compreender porque ainda acredita que sua mãe é perfeita e infalível, mas conforme for crescendo será capaz de enxergar os meus defeitos, alguns você compreenderá e aceitará outros, talvez, deteste e jamais compreenda.

Você geralmente consegue ser muito clara ao expressar seus sentimentos, mesmo quando não é, sou capaz de ler em seus olhos, nos seus gestos. Hoje mesmo você me disse com toda sinceridade "você não me ama, ama só minha irmã", acredite sei como se sente, como filha mais velha temos sempre a impressão de sermos colocadas para escanteio, temos que ser as perfeitinhas, que nunca cometem o mínimo erro, e isso dói, pesa, castiga. 

Gostaria que conseguisse sentir o quanto eu te amo, que pudesse saber que no meu coração há espaço e amor para você, sua irmã e quantos filhos vierem. Não te amo igual a sua irmã, mas na mesma proporção, na mesma quantidade, seria impossível amá-las igual porque cada uma tem seu jeito de ser, suas próprias características, amo o que cada uma tem de melhor e me preocupo com cada imperfeição porque quero ajudá-las a se tornarem as melhores pessoas que puderem de ser.

Acredito que você nunca lerá essa carta, mas vou me esforçar todos os dias para dizer e demonstrar o quanto eu te amo, porque sei como é bom ouvir, sentir e saber que somos amadas, e isso faz uma enorme diferença em nossa vida, nos faz mais confiantes, mais felizes.




quinta-feira, 18 de abril de 2013

Gâteu au Yaourt (Bolo de iogurte)

Ler é muito bom, eu pelo menos adoro. Mesmo que às vezes o tempo seja escasso, sempre que posso compro um novo título ou empresto na biblioteca.


Uma de minhas últimas aquisições foi o livro de Pamela Druckerman "Crianças Francesas Não Fazem Manha", ainda não terminei mas pelo que li até o momento é sobre a forma dos franceses educarem seus filhos e é bem interessante. Em um dos capítulos ela fala sobre como eles ensinam a paciência às crianças e um dos métodos é a culinária.

Refletindo sobre isso eu cheguei à conclusão de que eles têm uma sabedoria imensa, porque as crianças gostam de se sentir úteis, de poder ajudar com algo e principalmente serem capazes de fazer as coisas sozinhas, minha filha pelo menos se orgulha muito de si mesma quando consegue. E que forma mais gostosa de se aprender paciência do que cozinhando? Você prepara os ingredientes, confere se todos estão disponíveis, providencia os utensílios e finalmente põe as mãos à massa, para quem gosta de cozinhar as horas e os pensamentos voam. Terminada essa etapa é necessário esperar o tempo de cozimento para saborear o quê foi preparado com tanto carinho, e como essa espera é obrigatória a criança aprende que a espera pode ser boa, recompensadora e a preencher esse tempo com outras atividades.

De acordo com o livro a primeira receita que a criança aprende é o Gâteu au Yaourt (Bolo de Iogurte), na qual as medidas utilizadas são feitas no copinho do iogurte da receita, ele parece ser bem simples de fazer possibilitando que os adultos apenas supervisionem a saborosa atividade. Ainda não provei a receita, mas espero na primeira oportunidade poder prepará-lo e prová-lo com minha filha.

Para quem se interessar, segue a receita:

Gâteu au Yaourt (Bolo de Iogurte)

  • 2 potes de 170g de iogurte natural (use o pote para medir os outros ingredientes)
  • 2 ovos
  • 2 potes de açúcar (ou apenas um, se você preferir menos doce)
  • 1 colher de chá de baunilha
  • Um pouco menos de 1 pote de óleo vegetal
  • 4 potes de farinha de trigo
  • 1 ¹/² colher de sopa de fermento químico
  • Crème fraîche (creme de leite fresco) - opcional
Preaqueça o forno a 190ºC.

Unte uma fôrma redonda de 22cm ou uma fôrma de pão com óleo vegetal.

Misture os ingredientes úmidos e em uma tigela separada os secos. Depois junte ingredientes secos aos úmidos e misture até absorção. Se desejar acrescente 2 potes de gotas de chocolate ou outro ingrediente de sua preferência. Leve para assar por aproximadamente 35 minutos. Deixe esfriar.



                                           

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Sinto sua falta


Mamãe você estava ali sentada na frente do "cuntador" e eu senti falta do seu colinho, tomei coragem e pedi, você é sempre tão brava, mas minha irmã chorou e você mais uma vez a pegou no colo "Agora não filha, preciso atender sua irmã, depois mamãe te pega". 

Fui para o meu cantinho, papai deu meu leite e fiquei quietinha assistindo meus desenhos, triste porque sinto sua falta sabe? Mas não quis fazer birra, sei como você fica brava e não queria isso, nossa noite foi tão legal. 

Eu tinha desistido de ter meu colinho, parece que você só tem olhos para minha irmã, sei que ela é pequena, mas eu também gosto de colo e sou pequena ainda, aí fiquei esperando o sono chegar. 

De repente ouço sua voz (já te disse como adoro o som da sua voz?) chamando meu nome e oferecendo seu colo, mamãe você não faz ideia da minha felicidade, eu poderia sentir seu cheiro ("lemba" que eu disse que gosto do cheiro de mamãe?), seu calor, sua respiração, seu abraço, que delícia! Me aninhei no seu colinho, senti aquele aconchego bom que só o seu colo tem e na sala iluminada pela TV eu adormeci feliz.


terça-feira, 9 de abril de 2013

Mi-mi-mi

Passei quase toda a minha  gravidez em casa, e não foi porque era de risco ou algo parecido, mas porque a empresa em que eu trabalhava me demitiu aos quatro meses de gestação, e assim descobri que isso é mais "normal" do que pensamos, enfim, isso não vem ao caso. Como passei a maior parte da gravidez em casa e todas as pessoas que eu conheço estavam trabalhando, não me sobrou muita coisa além das redes sociais, com isso passei a conhecer pessoas, fazer parte de grupos e acabei lendo mi-mi-mis em grande quantidade.

Cada pessoa tem seu jeito de vivenciar uma gravidez, houve quem me chamasse de louca por preferir um Parto Natural Humanizado ao invés de uma cesárea eletiva ("Onde já se viu sentir dor se a ciência evoluiu com as cesáreas". Oi?) mas conheci uma pessoa que já perto da trigésima semana não tinha feito pré natal (depois a louca sou eu), de vivenciar a maternagem, tem gente que me acha retardada porque minha filha de 3 meses mama leite materno em livre demanda e não sabe o sabor de um leite artificial/complemento/fórmula, nem chá ("pra cólica" kkkkkk) ou água ("pra sede né com esse calor"), não chupa chupeta para acalmar ("como assim?! tem que dar chupeta para esse bebê!!!") e ganha colo, muito colo sempre que ela (ou eu rsrsrs - também sinto carência do meu bebê) precisa,  com a mais velha cometi o erro de fazer tuuuudoooo o quê não faço com a caçula porque ouvi a "voz da experiência" mas não meu instinto de mãe, página virada, culpa superada (fiz o melhor que pude).

As redes sociais e os grupos que conheci e passei a fazer parte me ajudaram  e ajudam muito nesse período em casa, pude entender muitos erros que cometi, passei a tentar não cometê-los mais, a buscar a MINHA forma de maternagem e não a que os outros quisessem que eu seguisse..., enfim, mas uma coisa às vezes me incomoda neles (principalmente em tempos de TPM, pois é mesmo amamentando ganhei esse "brinde" hahahaha): o mi-mi-mi. "Não consegui amamentar meu bebê porque meu leite era fraco", oi? "Optei por cesárea porque eu não suporto sentir dor" oi? oi?. "Dei um pedacinho de ovo de páscoa para meu bebê porque ele ficou olhando o mais velho comer e pode ficar com vontade, né?" oi? oi? oi?!!!!

Só para exemplificar (porque os casos de mi-mi-mi são muiiiitooooos mesmo) um dia desses em um dos grupos uma mãezinha (acho que esse é o termo mais adequado) publicou sobre um comentário que sua mãe fez sobre a qualidade do seu leite já que ela não se alimentava adequadamente, bom o problema já começa aí achando que leite materno é água. Hello!!! Mulheres amamentam há milênios e não existia leite artificial/complemento/fórmula como elas conseguiam?! Genteeee estou passada, será que em alguma ruína existem escritos antigos sobre como sobreviver sem essa maravilha? Ah me poupe. Aí eu muito trouxa quis ajudar com base na minha experiência de duas filhas, alguma leitura e indicação de grupos sérios (os membros nem tanto) que poderiam auxiliar e minha cara caiu minha gente, se espatifou no chão tamanho mi-mi-mi "meu bebê parou de engordar porque parei de fazer as quatro refeições certinho" (detalhe a criança já tinha mais de um ano, acho que ela deve achar que ela é um leitão para querer que engorde tanto assim), "porque ele não toma água mas faz bastante xixi e cocô" e blá-blá-blá mi-mi-mi e não é que a senhorita encontrou outras "fofas" adeptas do mi-mi-mi? Percebi que eu perdi e parei de gastar meu tempo com tamanha bobagem, amamentar não é ato de amor é de nutrição, mas para as mães que não tem nenhum problema realmente sério que as impossibilite de amamentar (sim porque isso acontece) é fruto da força de vontade, por isso chega de mi-mi-mi e assume de vez "não amamento porque não quero". Affff.

Muitas mulheres, no MEU ponto de vista, tem filho porque isso é "bonitinho". Pensa bem que "fofis" projetar o quarto do bebê, sim porque muitas contratam pessoas especializadas para isso, fazer o chá de bebê (que em alguns caso de chá não tem nada, é um mega evento com as "amigas"), ir comprar o enxoval em Miami ou sei lá onde, etc., etc., etc. Não é crítica, porque como disse cada pessoa DEVE fazer sua maternagem como achar melhor, porém quando o glamour do ensaio de gestante e de newborn termina vem a realidade materna seja das mansões do Gramado ou da casinha no Campo Grande: bebê chora minha gente e muito, mas o segredo do choro dos bebês é um mistério: por que eles choram e não pedem as coisas civilizadamente como qualquer criança? Dãããã será que é porque não sabem falar? Mas tem que ser às 2h da manhã? Hum, entendi seu bebê sabe ver as horas e faz isso só porque ele é um terrorista mirim. Fico pensando se em algum momento dessa trajetória em que uma mulher decide ser mãe ela não pensou em todas as dificuldades que a maternidade tem? Será que todo mundo pensa que todo bebê é lindo, fofinho, cheiroso, "bonzinho" como aqueles das propagandas de fraldas?

Baseando no que eu leio nas redes sociais, no que vejo entre conhecidos a resposta para essas perguntas é não, mas também a pessoa não busca se informar e ver como é a realidade e refletir se está disposta a bancar isso, de apesar das dificuldades ser mãe de verdade e não brincar de ser. Eu acredito que ser mãe não é fácil, a partir do dia que o exame dá positivo sua vida muda para sempre e você vai passar a dedicar boa parte do seu tempo a uma pessoa que nasce totalmente dependente (sempre com protestos de algumas mãezinhas) e vai aos poucos se virando sozinho até chegar o momento de não precisar de você para nada, aí a saudade daqueles tempos em que conseguir tomar um banho relaxante era um verdadeiro sonho. Admiro mulheres que optaram conscientemente por não ter filhos, essas sim pesaram prós e contras e ao invés de ceder a opinião alheia (de que mulher deve ser mãe) fizeram a escolha de não viver de mi-mi-mi e respeitaram sua natureza, não puseram uma pessoa no mundo para que carregasse suas frustrações, sim porque para mim quem fica de mi-mi-mi é uma pessoa frustrada, incapaz de assumir suas escolhas certas ou erradas.

fonte imagem: http://www.nutricionistadenisepinto.com/2013/02/chega-de-mimimi.html

quarta-feira, 13 de março de 2013

Um dia de cada vez

Um pouco mais de dois meses se passaram desde o nascimento da minha caçulinha, muitas coisas aconteceram, muitas mudanças não só na minha mas na vida de todos aqui em casa.

A primeira mudança foi a forma como vivenciei o primeiro mês de vida da minha filha. Dessa vez foi muito mais tranquila que a primeira, eu fui capaz de agarrar meu papel de mãe com unhas e dentes, mesmo fragilizada (menos que da primeira vez) tive coragem de questionar a pediatra que receitou "complemento" para minha filha com menos de um mês, mesmo eu tendo bastante leite para amamentar, tudo isso porque ela não ganhava a quantidade de peso que "a criança deve ganhar por dia". Hellooooo!!! Eu não pari uma bonequinha estrela, ela não foi produzida em série, se não se parece com a irmã como vai se parecer com o filho dos outros?! 

Amamentar é muito importante para a mãe e especialmente para o bebê, mas ninguém conta que é algo difícil, que a mãe precisa ter muita vontade de amamentar e principalmente: muito apoio. Apoio de TODOS, do marido seja dando só apoio moral ou levando copinho de água na hora da amamentação, das donas cocotas (são aquelas ilustres desconhecidas que cismam em dar palpite que você não se recorda de ter pedido), sogra, mãe, irmãs, cunhadas, amigas respeitando a opção de amamentação, se calando se não tiver coisas boas para dizer, usando o bom senso, dos pediatras verificando pega, orientando, etc. Pensando nisso a gente passa a entender aquelas que desistiram de tudo e optaram pela "boa", velha, amada, idolatrada, salve-salve: mamadeira (isso é uma ironia, porque todos acham liiiiindooooo uma mãe dando mamadeira para um bebê e um horror outra amamentando. Fica meu manifesto).

Passada essa fase de bicos rachados, esfolados, bebê preguiçosa que não sabe mamar (ah sim, ninguém te conta também que bebês não nascem sabendo mamar, tem que ensinar) veio nova: o ciúme da irmã mais velha. O comportamento dela que já não estava lá aquelas coisas antes e durante da gravidez (está naquela fase em que descobriu que pode pensar por si) no último mês piorou e muito, e me dei conta que era ciúme quando ela quis insistentemente "brincar" de ser nenê. Tive uma conversa franca e perguntei se ela queria ser bebê porque achava que a irmã recebia mais atenção que ela e a resposta foi sim, nesse meio tempo estávamos tentando mudar a forma de educação por aqui, quebrar o ciclo. Tivemos uma educação autoritária que nunca quisemos para nossas filhas, mas inevitavelmente estávamos cometendo alguns erros que sempre cometiam conosco. 

Eu e meu marido sempre conversamos sobre como seria a educação de nossos filhos: sempre muito diálogo, nada de gritos ou palmadas, mas as coisas não saíram como imaginávamos. Quando o diálogo falhava vinham os gritos, os castigos e quando perdíamos a razão (sabe aquele momento que dura um segundo e você se arrepende para o resto da vida?) vinha uma palmada no traseiro, e isso estava nos consumindo por dentro, passada a raiva nós olhavámos para aquela baixinha (que tem o sorriso mais lindo do mundo) e pensávamos: não é assim que queremos educá-la, não é a lembrança que queremos que tenha de nós quando ficar adulta. 

Partimos a procura de outra forma de educar que não a autoritária, então entre os textos que estou lendo estão os que abordam a educação positiva e tem sido bem difícil refrear algumas atitudes minhas, não fui educada para ter auto controle, meus pais não tinham (lembra da educação autoritária?). Quando ela grita ou se descontrola por algo que queira muito tento pensar: "seu cérebro é imaturo e ela não sabe lidar com isso, precisa da minha compreensão", aí abraço, converso, dou atenção e o comportamento negativo, que durava horas e resultava em gritos, castigos, etc., cessa imediatamente após o diálogo, a atitude dela, o olhar, são outros. 

Há momentos que dá certo outros não, mas sei que a culpa de não dar certo é exclusivamente minha, se eu me controlo consigo com que ela se controle, mas se não me controlo é óbvio que ela também não vai conseguir, e manter o controle é às vezes algo bem difícil, sobretudo quando você saiu de casa para buscá-la na creche umas quatro horas atrás, enfrentou ônibus lotado, com gente suuupeeer educada que te vê com bebê e não cede o assento, detalhe: preferencial, sem que você tenha que pedir..., enfim, mas dia a dia tenho conseguido um pouco e assim, um dia de cada vez chegarei lá.

Outra luta diária é vencer a tristeza e o pânico, não sei o quê está acontecendo mas esses tem sido meus companheiros há algumas semanas. Há momentos que tudo parece tão difícil e me sinto tão triste, desamparada, tenho vontade de chorar, não tenho vontade de ver ou falar com ninguém. Se tenho vontade de chorar eu choro até que minhas lágrimas sequem, o difícil é quando isso acontece fora da minha casa, sentir aquele nó na garganta e não poder chorar, dói por dentro. Além dessa tristeza tenho sentido quase todo o tempo um medo muito grande de algo que não sei descrever, é uma sensação realmente muito ruim, um aperto no peito como se algo muito ruim estivesse prestes a acontecer, e isso piora quando vai se aproximando o horário de sair de casa para buscar minha filha na creche (às vezes único "passeio" da semana), preciso fazer um grande esforço para sair, para vencer o medo do inexplicável, nem sempre meu marido pode sair mais cedo do trabalho e eu nem posso pedir que ele saia, já me ajuda demais coitado. Um dia de cada vez vou lutando e sei que um dia isso vai acabar, essa tristeza, o medo, o desânimo irão embora.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Entre raios e trovões eu me libertei (relato de parto)


Sempre que me imaginei sendo mãe, pensava em um parto normal (eu só conhecia dois termos: cesárea e normal), não me via fazendo uma cesárea. Em dezembro de 2007 nos descobrimos grávidos e muito felizes. Essa primeira gravidez correu perfeita, nada de pressão alta, diabetes gestacional ou qualquer coisa que pudesse impedir meu parto normal (que eu tinha 100% de certeza de que aconteceria, era tudo o que eu queria) e assim cheguei a 40ª semana e fui à consulta pré-natal, o médico então me disse: “Sua bebê não está encaixada, você não tem dilatação e não vou mentir a bebê não é pequena. Posso esperar no máximo até domingo”. Na hora minha cabeça deu um nó, pensei: “Puxa! Deu tudo tão certo até agora e vai que por um capricho meu acontece alguma coisa com meu bebê!” e concordei com a cesárea. Fiquei triste, frustrada, como meu corpo pôde ser tão incompetente a ponto de não ter dilatação? De não permitir que meu bebê encaixasse? Puxa, meu tampão tinha caído e de acordo com os cursos de gestantes que eu havia feito era pra eu ter o parto normal quando isso acontecesse. O quê havia de errado comigo? Remoí isso por muito tempo e acredito que pode ter sido uma das contribuições para minha depressão pós-parto. Até que um dia me conformei e achei que talvez tivesse sido melhor assim mesmo.

Passados um pouco mais de três anos decidimos que era o momento de termos mais um filho, e assim que me descobri grávida a dúvida e o medo apareceram juntos: eu queria ainda ter um parto normal, mas será que depois de uma cesárea eu poderia? Seria capaz de aguentar? Comecei a pesquisar e em uma dessas pesquisas conheci o Grupo Vínculo e com 26 semanas de gestação, no dia 15 de setembro fomos ao nosso primeiro encontro, e não vou mentir sai de lá frustradíssima porque embora fosse algo que eu quisesse muito (meu marido não tinha certeza se queria, tinha medo de que eu sofresse) era completamente fora da minha realidade financeira, mas mesmo assim continuei indo aos encontros que eu podia (sempre saindo meio triste) e tentando pensar como eu poderia fazer. Eu tinha descoberto algo novo: o parto natural, nem sabia que isso existia!

Nesse período fui conhecendo pessoas pelo Facebook, fazendo parte de grupos e muitas pessoas foram me incentivando, indicando pessoas que pudessem me ajudar a realizar esse sonho e eu sempre tentava o contato, mas sempre acabava frustrada, desanimada, era fora da minha realidade, a empresa em que eu trabalhava havia me demitido com 4 meses de gravidez e meu marido tinha que arcar com tudo sozinho. Eu já havia me conformado com uma possível cesárea, minha médica havia aceitado realizar o parto normal (com direito a episiotomia, posição obstétrica e anestesia) mas disse que aguardaria só até a DPP e depois era cesárea, fiquei angustiada, era frustrante demais você querer algo e não poder. A Marilyn, uma das pessoas que conheci pelo Facebook , foi me dando apoio, disse que eu poderia ligar para ela para o que eu precisasse porque para conseguir um PN eu precisaria de ajuda, mas eu não podia incomodar. No dia 13 de dezembro, já com 38 semanas, fui buscar minha filha na escola chorando porque meu prazo estava acabando e com ele minhas esperanças. À noite no Facebook conversei pelo bate-papo com a Marilyn ela disse que tinha novidades e me ligaria mais tarde, e realmente tinha! Ela ia me ajudar junto a Mirian e várias outras pessoas maravilhosas a ter meu tão sonhado PN. Fiquei feliz, sem chão, envergonhada em dar tanto trabalho a pessoas que eu não conhecia há muito tempo, mas que estavam me dando tanto carinho, foi um caminhão de emoções, nessa noite nem consegui dormir. Fui às consultas, esperei, comecei a ficar ansiosa, imaginando como poderia ser.

No dia 24 por volta da meia noite começaram minhas primeiras contrações, caiu meu tampão, mas eu não quis ligar para a Mirian, onde já se viu ligar para uma pessoa nesse horário? Mandei mensagem pelo Facebook e sms para ela e passei a noite em claro por causa das dores, mas por volta das 6h35 elas ficaram bem fortes e achei que poderia ser a hora, então liguei para a Mirian que veio para minha casa. As contrações que eram ritmadas foram se espaçando e ficando mais fracas, caminhamos e nada, cheguei a mandar minha filha mais velha para a casa da minha mãe pensando que fosse a hora, mas não era... Às 5h30 da manhã do dia 25 percebi que realmente não era a hora e muito chateada fui dormir. Passei o dia todo muito triste, envergonhada por ter dado tanto trabalho à toa. Os dias foram passando e nem uma contração pequeninha, cheguei a ir caminhar com a Mirian e a Karina na Lagoa dia 26 para ver se engrenava e enquanto caminhávamos as duas lembraram de uma gestante que entrou em TP dia 24 assistindo “Parto Orgásmico” e na volta a Mirian emprestou o DVD para eu assistir.

No dia 27 de dezembro assisti no comecinho da noite o filme “Parto Orgásmico” e por volta das 21h30 as contrações voltaram bem mais fortes que as do dia 24, houve momentos em que eu chorava e pedia para meu marido “por favor tira, tira, tira”, ele chamou minha Doula Mirian que veio junto com a Adriana que é Enfermeira Obstetra, elas passaram toda a madrugada comigo com as contrações vindo e voltando, os três (Marido, Doula e Enfermeira Obstetra) sempre me animando e fazendo massagens para ajudar a aliviar a dor, a Adriana fez o primeiro exame de toque, meu colo ainda estava duro e eu tinha só 1 cm de dilatação, então ela me aconselhou a descansar um pouco e comer alguma coisa que voltaria mais tarde com a Mirian. Elas voltaram mais tarde, mas eu não tinha conseguido descansar muito, o máximo 30 minutos, deitada as contrações doíam muito mais. Enquanto estavam comigo, em uma das contrações a Adriana percebeu que eu segurava a barriga porque o peso e a sensação de alguém forçando me incomodavam aí ela usou o rebozo que ajudou bastante a aliviar essa sensação. Tive contrações fortes que ritmavam, mas depois espaçavam durante os dias 27 e 28 e parecia que de novo era um alarme falso.

No dia 29 de madrugada a Mirian e a Olivia (Enfermeira Obstetra) vieram em casa e a Olívia checou minha dilatação: 1 cm e o colo já havia afinado! Como assim? Dói muito e só isso?!  Ai eu já não aguentava mais eram quase 48h de TP e nada! Estava me esforçando para não desistir, eu já não conseguia comer, dormia alguns minutos, e assim foi todo o dia 29 até por volta das 18h30 quando baixou a malucona em mim, durante uma das contrações olhei para meu marido, soquei a parede e disse: “quero ir para a Maternidade agora!”, eu entrei no chuveiro sem vontade nenhuma de sair e ele ligou para minha Doula, a Mirian, detalhando o que estava acontecendo e o intervalo das contrações. Eu me sentia desamparada, cansada e a beira de desistir, só queria que tudo acabasse. A Mirian pediu para que meu marido me perguntasse algo que, sinceramente não me recordo, mas eu estava tão irritada que nem consegui responder, a cada nova contração a única coisa que eu conseguia era uivar, literalmente. Minha Doula achou então que era hora de irmos para a Maternidade, ela avisaria a Dra. Mariana e nós nos encontraríamos lá.

Daniel foi ajeitando o que faltava, fechando janelas e quando ia ligar para o taxi, minha irmã ligou avisando que tinha voltado de viagem, quando ele disse que estávamos ligando para o taxi para ir à Maternidade ela disse que nos levaria e quando chegou ao nosso apartamento deve ter se assustado com meus uivos, eu já não tinha mais condições de ser simpática ou responder perguntas, simplesmente não queria responder, estava cansada, irritada e queria que tudo acabasse logo. O trajeto até a Maternidade me pareceu uma eternidade, no caminho quando vinham as contrações o carro parecia encolher e me apertar, não havia posição, em uma delas eu disse “quero descer” e se a porta abrisse por dentro talvez até saísse do carro em movimento mesmo.

Chegamos à Maternidade juntos com a Mirian e assim que entrei a Marcela (Enfermeira Obstetra) já me aguardava e me acolheu como uma leoa, não permitindo que outras pessoas, exceto Dra. Mariana, me examinassem evitando assim procedimentos desnecessários. Ela me ajudou a aliviar a dor das contrações com massagens, me orientou a respirar entre uma contração e outra, me incentivou... e cuidou de mim quando eu quis tirar a roupa no meio da recepção rsrs. Tudo que a minha Doula já tinha feito por mim, mas que no auge da dor eu já havia esquecido. Quando a Dra. Mariana fez o exame de toque me perguntou animada quantos centímetros de dilatação eu achava que estava, sinceramente eu achava que não tinha nenhuma e não me animava a chutar, mas eu tinha, estava com 9 cm, nem dava para acreditar porque durante o dia as contrações foram menos frequentes e mais fracas do que eu tinha enfrentado nos dias 27 e 28. Subimos para o C.O. e a partir daí perdi a noção do tempo, deveria ser umas oito da noite, um das enfermeiras me deram uma daquelas camisolinhas, ajudou a tirar minha roupa e a vesti-la, à toa porque assim que entrei no C.O. tirei aquela porcaria, irritava aquilo roçando minha pele. Deitei, sentei, levantei, andei, encostei, fiz tudo o que tive vontade. Todas me dizendo que eu podia, que faltava pouco, que cada contração era menos uma, me ajudando com massagens e me lembrando de respirar a cada intervalo das contrações (coisa que eu sempre esquecia), e sempre verificavam os batimentos da bebê, garantindo que tudo estivesse correndo bem. A Dra. Mariana verificou mais uma vez a dilatação e viu que minha bolsa ainda não tinha rompido, perguntou se eu queria que rompesse, pois poderia ajudar no TP e eu pedi para romper.

Para ajudar no trabalho de parto me orientaram a cada contração agachar o máximo que pudesse, mas eu não conseguia, estava com medo não sei do quê, então me ajudaram ficando uma por trás para eu me jogar nos braços dela e Dra. Mariana me segurando os braços de frente, mas fiquei com medo de cair e o “de sei lá mais o quê” que não ia embora. Daniel entrou no C.O. e me senti totalmente amparada, era a pessoa que faltava. Aí tiveram a ideia de fazer uma espécie de cordão com um pano que eu puxava quando vinham as contrações e me jogava para trás amparada pelo Dani. Em um desses momentos a Ariella coroou e puseram o espelhinho para eu ver o cabelinho e ter ânimo para fazer força, mas eu não queria ver nem tocar, queria mesmo que aquilo acabasse e eu pudesse ter minha filhinha nos braços. Nem senti o tal círculo de fogo tamanho cansaço e vontade de que tudo acabasse. Tive mais uma ou duas contrações e às 22h01 do dia 29/12/2012 minha filha nasceu inteira, não saiu primeiro a cabeça e depois o corpo, foi tudo de uma vez. Quando ela começou a nascer ao mesmo tempo começou uma chuva forte, com raios e trovões altos, me disseram que foi até engraçado porque soltei um urro (não me lembro disso) e em seguida houve um trovão no mesmo instante que Ariella nascia.

Assim que Ariella nasceu pareceu que os raios e trovões diminuíram, imediatamente colocaram nos meus braços aquela pessoa tão pequena cheirando a parto ainda presa pelo cordão umbilical e nesse exato momento esqueci as dores, o cansaço ou qualquer coisa que eu tivesse passado, a única coisa que senti foi amor, felicidade e realização. Como é maravilhoso poder parir! A equipe teve muito respeito com nosso momento, parecia que só nós estávamos na sala, o cordão foi cortado pelo papai somente quando parou de pulsar, só foram feitos com a pequena os procedimentos necessários e descemos juntas para o quarto, foi tudo tão bem que ela é uma criança muito tranquila e no dia 31 à tarde pudemos ir embora para casa.

A presença de uma Doula durante o TP faz toda a diferença, ela nos ajuda a lembrar de que toda mulher nasce com o dom de parir, nos apoia, conforta, ajuda a aliviar nossas dores. Em um dos momentos mais importantes da vida de uma mulher ela precisa receber: carinho, confiança e necessita que todos (amigos, parentes, equipe) acreditem e reforcem sua capacidade de parir. Uma equipe humanizada durante o parto é importante para garantir à mãe, ao bebê e também ao pai todo o respeito que o momento e que a família merecem, e tudo isso eu pude ter e agradeço muito.

Passei por uma cesárea antes de conseguir meu PN e posso dizer que não trocaria o segundo pelo primeiro, isso não quer dizer que a cesárea não tenha sua importância, tem sim porque muitas vidas foram salvas por ela, mas se tudo corre bem por que fazer cirurgicamente algo que a natureza pode fazer muito melhor? Por que não permitir que o bebê escolha seu momento de conhecer o mundo? Por que expor ao risco duas pessoas saudáveis?


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Ser mãe é reaprender todos os dias

Já fazem 12 dias que minha pequenina nasceu de um PN que eu, sinceramente, acreditava que não seria capaz de conseguir por diversas razões: financeiras, psicológicas, fisiológicas... Havia várias pessoas confiando de que eu podia, mas as pessoas que eu mais precisava que acreditassem não acreditaram, após minha libertação joguei para uma delas "todo mundo achava que eu não conseguiria, mas eu consegui". Esse foi um dos primeiros reaprendizados que tive: como mãe posso muitas coisas inclusive passar por um TP de 48h e um PN sem analgesia.

Agora estou reaprendendo a lidar com bebê, a amamentar. Minha filha mais velha tem quatro anos, vamos combinar que é um espaço considerável e muitas coisas mudaram desde a época que Hannah nasceu, por exemplo, os médicos diziam que tínhamos que colocar os bebês deitados de lado, agora tem uns que dizem que deve ser de barriga para cima, podem se decidir por favor? Quer saber? Coloco do jeito que meu instinto de mãe mandar. É tenho instintos, poucos mas tenho.

Amamentar tem sido a tarefa mais árdua para mim, os bicos fissuraram e me lembrei de como a dor é horrível quando tem uma pessoazinha sugando. Dá vontade de falar palavrão, de esmurrar alguma coisa, gritar e até fazer xixi nas calças, mas eu sou uma mulher civilizada (só um palavrãozinho entre sussurros). Achei que seria bem mais fácil porque já amamentei antes, que não teria as benditas fissuras mas surpresa elas vieram. A pediatra me disse que a pele do seio volta a afinar depois que você pára de amamentar, que legal! Só agora me dizem isso! Teria me preparado psicologicamente para passar por isso de novo, isso arde pow! Eu tenho necessitado de toda minha força de vontade para não desistir, amamentar é sim muito prazeroso, desde que você não tenha fissuras.

Com minha primeira filha a parte mais difícil foram as fissuras, mas ela mamava bem pegava um seio daqueles bem durão de leite e acabava com ele até ficar murchinho, mas minha segunda tem uma preguiça danada de mamar, mama, dorme, larga... As pessoas me dizem "você tem que estimulá-la, mexer na bochechinha, nos pezinhos, tirar a roupinha", rá e vocês acham que não faço isso? Quem disse que ela acorda? Quando disse à moça do BLH que ela levava às vezes mais de uma hora para mamar ela não acreditou mas quando viu a bebê em ação ficou boquiaberta e disparou: "esse é o ritmo dela". Deeerrr e eu que sou a mãe dela não sei? Afffeeee mania que esse povo tem de não acreditar. A baixinha tem tanta preguiça de sugar que lambe, lambe, lambe o seio porque ela descobriu que fazendo isso cai leite na boca dela, taí para quem diz que bebê não entende das coisas. Tudo isso para dizer o aprendizado números dois e três: bebês não nascem aprendendo a mamar e nenhum bebê é igual a outro (mesmo sendo seus filhos). Ah eu meio que sabia disso, mas tinha esperanças de que comigo fosse diferente, doce ingenuidade.

Aprendi que não gosto mais de desenhos tanto quanto eu gostava, na realidade prefiro assistir jornal, documentários, esses programas chatos de adulto, eu achava que nunca gostaria disso, mas agora gosto e entendo porque minha mãe ficava tão chateada de ver desenhos. Também não gosto mais de brincar de bonecas e fiquei realmente chateada por isso, achava que era a brincadeira mais legal do mundo e agora não acho mais, pique-esconde me dá sono (bom, nunca gostei muito mesmo porque não conseguia achar bons esconderijos e nunca fui rápida o suficiente para bater livre). Coitadinha da minha filha! Ela ama bonecas e pique-esconde...

Descobri que consigo ter paciência quando ela já quase não existe mais e que consigo ser meiga e até dócil, quem diria? Saraiva em pessoa ser meiga? Dócil? Hannah tem me ensinado muita coisa, a parte ruim é que com isso acabo cometendo erros enormes com ela, eu esperava não cometê-los, achava que quando fosse mãe não cometeria os erros de meus pais, eu sinceramente jurava que não os cometeria, mas cometi e cometo os mesmos erros.

A coisa mais importante que aprendi com minhas filhas é que sempre há amor para quantos filhos vierem. Alguém pode dizer "avá que você não sabia disso", até sabia mas quando você se dedica exclusivamente para uma pessoa por quatro anos acha que pode não sobrar para outra. Quando estava grávida não conseguia conversar com minha barriga, acariciá-la porque achava que estaria "traindo" minha filha, mas no primeiro segundo que Ariella nasceu e a colocaram em meus braços pude perceber que havia amor para ela também, a amo tanto quanto a Hannah e assim como a ela adoro seu cheiro, sua voz, sua pele, seus olhos... Para mim são as pessoas mais lindas e importantes do mundo. Amor é elástico quando se trata de filhos, é como dizem "coração de mãe sempre cabe mais um".