Sempre que me imaginei sendo mãe, pensava
em um parto normal (eu só conhecia dois termos: cesárea e normal), não me via
fazendo uma cesárea. Em dezembro de 2007 nos descobrimos grávidos e muito
felizes. Essa primeira gravidez correu perfeita, nada de pressão alta, diabetes
gestacional ou qualquer coisa que pudesse impedir meu parto normal (que eu
tinha 100% de certeza de que aconteceria, era tudo o que eu queria) e assim
cheguei a 40ª semana e fui à consulta pré-natal, o médico então me disse: “Sua
bebê não está encaixada, você não tem dilatação e não vou mentir a bebê não é
pequena. Posso esperar no máximo até domingo”. Na hora minha cabeça deu um nó,
pensei: “Puxa! Deu tudo tão certo até agora e vai que por um capricho meu acontece
alguma coisa com meu bebê!” e concordei com a cesárea. Fiquei triste,
frustrada, como meu corpo pôde ser tão incompetente a ponto de não ter
dilatação? De não permitir que meu bebê encaixasse? Puxa, meu tampão tinha
caído e de acordo com os cursos de gestantes que eu havia feito era pra eu ter
o parto normal quando isso acontecesse. O quê havia de errado comigo? Remoí
isso por muito tempo e acredito que pode ter sido uma das contribuições para
minha depressão pós-parto. Até que um dia me conformei e achei que talvez
tivesse sido melhor assim mesmo.
Passados um pouco mais de três anos
decidimos que era o momento de termos mais um filho, e assim que me descobri
grávida a dúvida e o medo apareceram juntos: eu queria ainda ter um parto
normal, mas será que depois de uma cesárea eu poderia? Seria capaz de aguentar?
Comecei a pesquisar e em uma dessas pesquisas conheci o Grupo Vínculo e com 26
semanas de gestação, no dia 15 de setembro fomos ao nosso primeiro encontro, e
não vou mentir sai de lá frustradíssima porque embora fosse algo que eu
quisesse muito (meu marido não tinha certeza se queria, tinha medo de que eu
sofresse) era completamente fora da minha realidade financeira, mas mesmo assim
continuei indo aos encontros que eu podia (sempre saindo meio triste) e
tentando pensar como eu poderia fazer. Eu tinha descoberto algo novo: o parto
natural, nem sabia que isso existia!
Nesse período fui conhecendo pessoas
pelo Facebook, fazendo parte de grupos e muitas pessoas foram me incentivando,
indicando pessoas que pudessem me ajudar a realizar esse sonho e eu sempre
tentava o contato, mas sempre acabava frustrada, desanimada, era fora da minha
realidade, a empresa em que eu trabalhava havia me demitido com 4 meses de
gravidez e meu marido tinha que arcar com tudo sozinho. Eu já havia me conformado
com uma possível cesárea, minha médica havia aceitado realizar o parto normal
(com direito a episiotomia, posição obstétrica e anestesia) mas disse que
aguardaria só até a DPP e depois era cesárea, fiquei angustiada, era frustrante
demais você querer algo e não poder. A Marilyn, uma das pessoas que conheci
pelo Facebook , foi me dando apoio, disse que eu poderia ligar para ela para o
que eu precisasse porque para conseguir um PN eu precisaria de ajuda, mas eu
não podia incomodar. No dia 13 de dezembro, já com 38 semanas, fui buscar minha
filha na escola chorando porque meu prazo estava acabando e com ele minhas
esperanças. À noite no Facebook conversei pelo bate-papo com a Marilyn ela
disse que tinha novidades e me ligaria mais tarde, e realmente tinha! Ela ia me
ajudar junto a Mirian e várias outras pessoas maravilhosas a ter meu tão
sonhado PN. Fiquei feliz, sem chão, envergonhada em dar tanto trabalho a
pessoas que eu não conhecia há muito tempo, mas que estavam me dando tanto
carinho, foi um caminhão de emoções, nessa noite nem consegui dormir. Fui às
consultas, esperei, comecei a ficar ansiosa, imaginando como poderia ser.
No dia 24 por volta da meia noite
começaram minhas primeiras contrações, caiu meu tampão, mas eu não quis ligar
para a Mirian, onde já se viu ligar para uma pessoa nesse horário? Mandei
mensagem pelo Facebook e sms para ela e passei a noite em claro por causa das
dores, mas por volta das 6h35 elas ficaram bem fortes e achei que poderia ser a
hora, então liguei para a Mirian que veio para minha casa. As contrações que
eram ritmadas foram se espaçando e ficando mais fracas, caminhamos e nada,
cheguei a mandar minha filha mais velha para a casa da minha mãe pensando que
fosse a hora, mas não era... Às 5h30 da manhã do dia 25 percebi que realmente
não era a hora e muito chateada fui dormir. Passei o dia todo muito triste,
envergonhada por ter dado tanto trabalho à toa. Os dias foram passando e nem
uma contração pequeninha, cheguei a ir caminhar com a Mirian e a Karina na
Lagoa dia 26 para ver se engrenava e enquanto caminhávamos as duas lembraram de
uma gestante que entrou em TP dia 24 assistindo “Parto Orgásmico” e na volta a
Mirian emprestou o DVD para eu assistir.
No dia 27 de dezembro assisti no
comecinho da noite o filme “Parto Orgásmico” e por volta das 21h30 as
contrações voltaram bem mais fortes que as do dia 24, houve momentos em que eu
chorava e pedia para meu marido “por favor tira, tira, tira”, ele chamou minha
Doula Mirian que veio junto com a Adriana que é Enfermeira Obstetra, elas passaram
toda a madrugada comigo com as contrações vindo e voltando, os três (Marido,
Doula e Enfermeira Obstetra) sempre me animando e fazendo massagens para ajudar
a aliviar a dor, a Adriana fez o primeiro exame de toque, meu colo ainda estava
duro e eu tinha só 1 cm de dilatação, então ela me aconselhou a descansar um
pouco e comer alguma coisa que voltaria mais tarde com a Mirian. Elas voltaram
mais tarde, mas eu não tinha conseguido descansar muito, o máximo 30 minutos,
deitada as contrações doíam muito mais. Enquanto estavam comigo, em uma das
contrações a Adriana percebeu que eu segurava a barriga porque o peso e a
sensação de alguém forçando me incomodavam aí ela usou o rebozo que ajudou
bastante a aliviar essa sensação. Tive contrações fortes que ritmavam, mas
depois espaçavam durante os dias 27 e 28 e parecia que de novo era um alarme
falso.
No dia 29 de madrugada a Mirian e a
Olivia (Enfermeira Obstetra) vieram em casa e a Olívia checou minha dilatação:
1 cm e o colo já havia afinado! Como assim? Dói muito e só isso?! Ai eu já não aguentava mais eram quase 48h de
TP e nada! Estava me esforçando para não desistir, eu já não conseguia comer,
dormia alguns minutos, e assim foi todo o dia 29 até por volta das 18h30 quando
baixou a malucona em mim, durante uma das contrações olhei para meu marido,
soquei a parede e disse: “quero ir para a Maternidade agora!”, eu entrei no
chuveiro sem vontade nenhuma de sair e ele ligou para minha Doula, a Mirian, detalhando
o que estava acontecendo e o intervalo das contrações. Eu me sentia
desamparada, cansada e a beira de desistir, só queria que tudo acabasse. A
Mirian pediu para que meu marido me perguntasse algo que, sinceramente não me
recordo, mas eu estava tão irritada que nem consegui responder, a cada nova
contração a única coisa que eu conseguia era uivar, literalmente. Minha Doula
achou então que era hora de irmos para a Maternidade, ela avisaria a Dra.
Mariana e nós nos encontraríamos lá.
Daniel foi ajeitando o que faltava,
fechando janelas e quando ia ligar para o taxi, minha irmã ligou avisando que
tinha voltado de viagem, quando ele disse que estávamos ligando para o taxi
para ir à Maternidade ela disse que nos levaria e quando chegou ao nosso
apartamento deve ter se assustado com meus uivos, eu já não tinha mais
condições de ser simpática ou responder perguntas, simplesmente não queria
responder, estava cansada, irritada e queria que tudo acabasse logo. O trajeto
até a Maternidade me pareceu uma eternidade, no caminho quando vinham as
contrações o carro parecia encolher e me apertar, não havia posição, em uma
delas eu disse “quero descer” e se a porta abrisse por dentro talvez até saísse
do carro em movimento mesmo.
Chegamos à Maternidade juntos com a
Mirian e assim que entrei a Marcela (Enfermeira Obstetra) já me aguardava e me
acolheu como uma leoa, não permitindo que outras pessoas, exceto Dra. Mariana,
me examinassem evitando assim procedimentos desnecessários. Ela me ajudou a
aliviar a dor das contrações com massagens, me orientou a respirar entre uma
contração e outra, me incentivou... e cuidou de mim quando eu quis tirar a
roupa no meio da recepção rsrs. Tudo que a minha Doula já tinha feito por mim,
mas que no auge da dor eu já havia esquecido. Quando a Dra. Mariana fez o exame
de toque me perguntou animada quantos centímetros de dilatação eu achava que
estava, sinceramente eu achava que não tinha nenhuma e não me animava a chutar,
mas eu tinha, estava com 9 cm, nem dava para acreditar porque durante o dia as
contrações foram menos frequentes e mais fracas do que eu tinha enfrentado nos
dias 27 e 28. Subimos para o C.O. e a partir daí perdi a noção do tempo,
deveria ser umas oito da noite, um das enfermeiras me deram uma daquelas
camisolinhas, ajudou a tirar minha roupa e a vesti-la, à toa porque assim que
entrei no C.O. tirei aquela porcaria, irritava aquilo roçando minha pele.
Deitei, sentei, levantei, andei, encostei, fiz tudo o que tive vontade. Todas
me dizendo que eu podia, que faltava pouco, que cada contração era menos uma,
me ajudando com massagens e me lembrando de respirar a cada intervalo das
contrações (coisa que eu sempre esquecia), e sempre verificavam os batimentos
da bebê, garantindo que tudo estivesse correndo bem. A Dra. Mariana verificou
mais uma vez a dilatação e viu que minha bolsa ainda não tinha rompido,
perguntou se eu queria que rompesse, pois poderia ajudar no TP e eu pedi para
romper.
Para ajudar no trabalho de parto me
orientaram a cada contração agachar o máximo que pudesse, mas eu não conseguia,
estava com medo não sei do quê, então me ajudaram ficando uma por trás para eu
me jogar nos braços dela e Dra. Mariana me segurando os braços de frente, mas
fiquei com medo de cair e o “de sei lá mais o quê” que não ia embora. Daniel
entrou no C.O. e me senti totalmente amparada, era a pessoa que faltava. Aí
tiveram a ideia de fazer uma espécie de cordão com um pano que eu puxava quando
vinham as contrações e me jogava para trás amparada pelo Dani. Em um desses
momentos a Ariella coroou e puseram o espelhinho para eu ver o cabelinho e ter
ânimo para fazer força, mas eu não queria ver nem tocar, queria mesmo que
aquilo acabasse e eu pudesse ter minha filhinha nos braços. Nem senti o tal
círculo de fogo tamanho cansaço e vontade de que tudo acabasse. Tive mais uma
ou duas contrações e às 22h01 do dia 29/12/2012 minha filha nasceu inteira, não saiu primeiro a cabeça e
depois o corpo, foi tudo de uma vez. Quando ela começou a nascer ao mesmo tempo
começou uma chuva forte, com raios e trovões altos, me disseram que foi até
engraçado porque soltei um urro (não me lembro disso) e em seguida houve um
trovão no mesmo instante que Ariella nascia.
Assim que Ariella nasceu pareceu que
os raios e trovões diminuíram, imediatamente colocaram nos meus braços aquela
pessoa tão pequena cheirando a parto ainda presa pelo cordão umbilical e nesse
exato momento esqueci as dores, o cansaço ou qualquer coisa que eu tivesse
passado, a única coisa que senti foi amor, felicidade e realização. Como é
maravilhoso poder parir! A equipe teve muito respeito com nosso momento, parecia
que só nós estávamos na sala, o cordão foi cortado pelo papai somente quando
parou de pulsar, só foram feitos com a pequena os procedimentos necessários e
descemos juntas para o quarto, foi tudo tão bem que ela é uma criança muito
tranquila e no dia 31 à tarde pudemos ir embora para casa.
A presença de uma Doula durante o TP
faz toda a diferença, ela nos ajuda a lembrar de que toda mulher nasce com o
dom de parir, nos apoia, conforta, ajuda a aliviar nossas dores. Em um dos
momentos mais importantes da vida de uma mulher ela precisa receber: carinho,
confiança e necessita que todos (amigos, parentes, equipe) acreditem e reforcem
sua capacidade de parir. Uma equipe humanizada durante o parto é importante
para garantir à mãe, ao bebê e também ao pai todo o respeito que o momento e
que a família merecem, e tudo isso eu pude ter e agradeço muito.
Passei por uma cesárea antes de
conseguir meu PN e posso dizer que não trocaria o segundo pelo primeiro, isso
não quer dizer que a cesárea não tenha sua importância, tem sim porque muitas
vidas foram salvas por ela, mas se tudo corre bem por que fazer cirurgicamente
algo que a natureza pode fazer muito melhor? Por que não permitir que o bebê
escolha seu momento de conhecer o mundo? Por que expor ao risco duas pessoas
saudáveis?
Pois é... histórias com a sua Patricia, só servem para nos mostrar que, quando a mulher quer realmente ter um parto respeitoso, ela corre atrás. Como eu te repeti várias vezes 'não desista do seu sonho'. Fico feliz em ver que vc não se acomodou e desistiu, como vejo por aí tantas e tantas vezes, através de mulheres que não conseguem se empoderar como vc o fez.
ResponderExcluirUma linda lua de leite p/ vc e p/ filhota!! :D
bjs,
Obrigada! Mas esse empoderamento só foi possível graças a ajuda de muitas pessoas: Marilyn, Mirian, Olivia, Adriana, Karina, Kelly, Marcela, Dra. Mariana, Dra. Otilia (tantas pessoas que não cabem todas), se não fossem elas talvez eu tivesse passado por outra DESNEcesárea. A Marilyn tem especial participação nisso e serei eternamente grata, a Mirian (minha Doula) que deixou bebê, marido, filho doente... para estar ao meu lado. Eu gostaria que todas as mulheres pudessem ter perto de si pessoas como as que fizeram parte da minha vida nesse momento.
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