sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Simplificando


Quando eu era criança:
- esperava ansiosamente pelo meu aniversário (e das irmãs também, não havia bolo de chocolate que se igualasse ao bolo gelado que minha mãe fazia. E os brigadeiros e beijinhos? Não sei se a melhor parte era "ajudar" minha mãe ou raspar a panela). Não comemorava uma vez por mês e sim uma vez por ano, não tinha recreador, brinquedos eletrônicos e sei lá mais o quê, a gente é que virasse com a imaginação;
- depois do meu aniversário, a data mais esperada era o Natal, as duas únicas datas em que ganhava presente (que poderia ser roupas, sapatos, brinquedos e a gente sempre ficava feliz e agradecia);
- dia das crianças era dia de brincar, fazer passeio mas nada de presente;
- férias era tempo de dormir até um pouco mais tarde (desde que não passasse das 9h), de brincar sem preocupação com o horário de ir para a escola, visitar avó, amigas da minha mãe... ela nunca se descabelou para arrumar atividades, e a gente? Nem ligava, brincar sem preocupação era bom demais;
- eu tenho muitas fotos de quando era criança, mas todas são de aniversários, férias em família e Natal (da mesa farta, da árvore, dos presentes), as que não são dessas datas foram tiradas com aquele restinho de filme. O mais legal era esperar o meu pai mandar revelar (e isso poderia demorar muito mesmo porque era caro), o dia que a gente ia buscar as fotos era diversão por muitas horas;
- nos consultórios a gente que se comportasse e distraísse com as revistas velhas (e chatas de gente grande), nada de celular, tablet, levar brinquedos de casa ou área kids. Havia momentos que o médico demorava demais pra atender e a nossa paciência de criança acabava? Sim, e para essas ocasiões a minha mãe tinha umas balinhas na bolsa ("uma só e chega, porque bala estraga os dentes").
Às vezes eu vejo as crianças por aí e percebo que muitas não sabem brincar sozinhas, andar descalças, inventar, imaginar, que passeios são sempre em locais caros e fechados, não observam as flores, a grama, os pássaros... mas são capazes de contar, escrever o próprio nome, desenham muito bem, e tudo isso apesar da pouca idade e/ou ainda não irem na escola. 
Ariella não sabe desenhar nem escrever o próprio nome, mas faz garatujas lindas, adora andar descalça, ver passarinho, flores, trens, aviões, ... Hannah não é uma desenhista muito boa, mas já construiu várias máquinas do tempo (com papelão, ou lençol, ou debaixo da cama, ...) e viajou nelas enquanto fingia ser o Doctor Who, já fez vestido de noiva com o lençol e cabanas e capas de super heroi e o que mais a imaginação dela andar. Noah adora correr, comer alecrim do quintal do Sesc, se esconder, ver "pipiu", "au-au" e qualquer outro "bitinho", dificilmente consigo chegar em algum lugar com ele limpo (e voltar pra casa assim) porque deita no chão, corre, cai, levanta, me põe doida... :/
Sábado fomos cedo ao Sesc e lá em um cantinho sentados no chão fizemos um piquenique, a foto desse dia foi tirada mentalmente, assim como quando eu era criança, e ainda hoje revisito essas "fotos" e sinto saudades.
Sei que todos acham que eu e Daniel somos meio esquisitos e andamos na contramão, mas sabe que não nos importamos. Das coisas que nossos pais nos ensinaram, levar uma vida simples foi a melhor de todas, e espero de coração que nossos filhos levem isso com eles.


* Publicado originalmente no meu perfil pessoal: https://www.facebook.com/PatthyPotter/posts/10209710842466216

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Sobre ser boa mãe e Papai Noel


Minhas filhas eu sou uma péssima mãe, tenho pena de vocês. 
Mamãe não vai deixar o Papai Noel trazer o que pediram, e isso me faz uma mãe muito ruim, mas vou explicar o porquê:
- Vocês não precisam de brinquedos caros para serem felizes; 
- Vocês precisam aprender desde cedo que a vida não é tão fácil quanto parece e que nem sempre temos o que desejamos; 
- Precisam aprender a dar valor e serem gratas ao pouco que têm; 
- Precisam aprender a serem felizes no pouco e nunca se desanimarem diante das dificuldades que, lamento dizer, um dia terão, infelizmente.
Meu papel de mãe é tentar ensinar o caminho por onde devem seguir, e às vezes ele poderá ser árido, espinhoso e dolorido, lamento por isso, mas prometo que vou segurar as suas mãos, me ferir com vocês e fazer curativos para as suas feridas.
Se eu tiver sucesso nessa missão, tenho certeza de que um dia vocês me compreenderão e serão gratas por não ter dado tudo o que queriam, por não poupá-las de algumas frustrações e decepções, por fazê-las mais fortes, realistas e sem apego ao material.
Amo muito vocês. 


(Texto de minha autoria, publicado originalmente no meu perfil pessoal no Facebook em 06/12/2015 às 23h27).

sábado, 1 de agosto de 2015

Amamentar é fácil! Só que não

Tem um bom tempo que não escrevo por aqui, tenho que confessar: morro de preguiça. Se eu dependesse de um blog para ganhar a vida morreria de fome com certeza.

O que me motivou a escrever foi algo que, para mim pelo menos, é muito importante: aleitamento materno. Estamos na Semana Mundial da Amamentação (SMAM) que esse ano tem por tema o trabalho e a amamentação e achei que compartilhando minha experiência poderia contribuir ao menos um pouco.

Quem amamenta, já amamentou ou pelo menos tentou sabe o quanto é difícil, que aquelas propagandas promovendo o aleitamento materno nos fazem sentir umas fracassadas, porque "nossa! como é fácil!" e aí logo na primeira mamada você descobre que não é. Puxa Vida!

Ninguém te avisa que os bebês não nascem sabendo mamar e que você não vai saber automaticamente o que fazer, já que nos vendem aquela visão romântica da maternidade: mãe sabe tudo! Mentira! Não sabemos não, aprendemos com o tempo, erramos, acertamos e ganhamos experiência dessa forma, mas até lá...

Na minha primeira filha eu comecei a descobrir as dificuldades ainda na maternidade. Eu tinha muito colostro a ponto de meus seios ficarem endurecidos, aquela boca minúscula não conseguia abocanhar o peito com facilidade e não dava conta de tudo o que eu produzia. Sai do hospital e fui para a casa da minha mãe, veio a apojadura e com ela a dor (porque, óbvio que minha filha não conseguia esvaziar tudo), as fissuras (pega errada) e uma chuva de palpites errados, resultado? Sofri, chorei, tive dores mas não desisti porque para mim era importante demais amamentar, depois de tanta insistência consegui e como foi maravilhoso, eu achava prazeroso demais. Sentia o seio enchendo e assim percebia que minha filha choraria em seguida querendo mamar, sentia o leite saindo enquanto ela sugava, o jeito como me olhava... Era bom demais, mas como tudo que é bom não dura para sempre...

Chegou o fim na minha licença maternidade, como aluna na faculdade eu tinha só 90 dias e tratei de comprar meus vidrinhos para armazenar o leite e deixar para minha mãe dar para a bebê. Primeira ordenha: que frustração! "Só" 80 ml, gente pelo amor! Tenho que encher 500ml, como assim? E pra piorar aquele seio enoooorme, cheio de leite murchou da noite para o dia, nem vazava mais. Ninguém me contou que:
1. lá pelo terceiro mês a produção ajusta e obviamente parece ter menos leite (mas não tem pouco, ok? A gente produz o suficiente para o bebê);
2. você consegue tirar 80 ml depois de amamentar e ainda reclama?

Para ajudar ainda mais (sei que não foi na maldade) minha mãe me ligava em torno de 3 vezes por dia para saber se eu estava conseguindo armazenar e quando eu dizia o quanto tinha conseguido a resposta era "nossa! só?! ai se não tiver suficiente eu não vou deixar chorando e compro uma lata de leite", depois que ela desligava eu choraaaaavaaaaaa e choraaaaavaaaaa e choraaaavaaaa. Como assim gente? Me disseram que era tão simples, alguém tem que me ajudar. E foi aí que eu pedi ajuda para o pediatra e sabe como ele me ajudou? Me deu uma receita de leite artificial, um "complemento". Sai do consultório arrasada, "que droga de mãe eu sou! não consegui ter um parto normal e nem sou capaz de produzir leite para deixar pra minha filha", e novo eu chorei, chorei, chorei... 

Apesar dos trancos, barrancos e frustrações consegui levar amamentação mista (leite materno e artificial) até um ano e meio, quando ela decidiu que não queria mais mamar no peito (ai que nojinho!). Que frustrante! Filha eu não estou preparada!

O tempo passou, decidi ter mais um filho e pensei "oba! agora eu já sei o que fazer". Tá bom! Ganhei uma bebê preguiçosa, ela dormia enquanto mamava e era bem difícil conseguir fazer com que acordasse, e para ajudar ela é mini baby. Sabe aqueles bebês que crescem, engordam mas não dentro da maldita curva (tipo linha de produção)? A própria. Primeira consulta pediatra já olha meio torto para o peso, volta semana que vem e de novo não ganhou o quanto a curva manda, resultado? Ganhei uma receita de leite artificial, mas não aceitei, questionei e ganhei "uma segunda chance". Desespero bateu, o que fazer? Conversei com a minha doula que me indicou uma consultora em amamentação e ainda lembrou que eu tinha ganho uma consulta com ela num sorteio (juro que no dia que ganhei fiquei super frustrada, ainda estava grávida e pensei "para que eu preciso disso gente? já sei amamentar" - bobinha). E lá fui eu aprender a ensinar a mocinha mamar e de quebra uns truques para o leite descer mais fácil. E ela aprendeu tão bem, e gostou tanto que mama até hoje com 2 anos e 7 meses compartilhando com seu irmão caçula.

No momento que decidi ter o terceiro filho fiquei com muito medo que a história se repetisse, mas dessa vez foi tranquilo, pega perfeita desde o primeiro dia, nada de fissura e tudo fluiu. Experiência, sorte, sei lá.

Quando meu sobrinho nasceu a minha irmã teve muitas dificuldades com a amamentação, me ligava tarde da noite ou de madrugada para pedir ajuda, conselhos ou mesmo desabafar. Eu com minha bebê de 8 meses atravessava de ônibus a cidade para ir até a casa dela ajudar, e achei que ela nem ouvia o que eu dizia. Juro, fiquei frustrada. E há pouco tempo atrás descobri que ela conseguiu amamentar meu sobrinho até o sexto mês, e só não foi mais porque com a APLV dele precisava deixar de consumir leite e derivados e estava emagrecendo muito, que ajudou a vizinha e essa segue amamentando até depois de um ano.

O quê eu quis dizer com esse texto enorme? Que informação é importante mas mais que isso é uma rede de apoio, sem isso a gente se sente insegura e não consegue ir adiante, amamentar não é fácil mas com ajuda a gente consegue.


quinta-feira, 3 de abril de 2014

Terceirização dos Filhos

Outro dia li esses textos excelentes da Mariana Sgarioni (A criança terceirizada e A criança terceirizada[2]: a confissão das babás) e fiquei horrorizada ao tomar conhecimento de que muitos pais entregam totalmente a responsabilidade de amar, educar, proteger seus filhos a outras pessoas.

Sejamos honestas, é óbvio que todo mundo sabe o que os espera no mundo materno/paterno, ao menos o mínimo como: troca de fraldas, choro do bebê (e da criança maior), madrugadas insones e tantas outras coisas que as pessoas fazem questão de nos dizer junto a frase irônica e ridícula "aproveita agora, porque depois..." (odeio essa frase, como se a maternidade fosse um fardo insustentável) assim que comunicamos a gravidez, então não dá pra dizer "se eu soubesse não teria sido pai/mãe".

Não acho que alguém precise parar de trabalhar, estudar ou mesmo de se divertir porque teve um filho, só penso que essas coisas podem ficar ainda melhores e mais divertidas, podem ser um desafio excitante. Será que não tem como mesmo reorganizar os horários de forma a comparecer a uma reunião de escola? Por que perder ou delegar a outros (que não o pai) a descoberta do que minhas filhas vem aprendendo e desenvolvendo na escola? Uma viagem a dois é muito bom, mas em família pode ser inesquecível, a gente se cansa mais? Claro, mas também tem recordações maravilhosas das descobertas das crianças. 

Com isso não quero dizer que um cuidador amoroso eventualmente não possa ajudar a satisfazer nossas necessidades de saídas noturnas, jantares a dois... estou falando sobre delegar integralmente a responsabilidade sobre aquela pequena pessoa tão desejada, esperada e imaginada (eu acho rsrs por aqui foi) a outro que não seja eu ou meu marido - os pais. Temos nossas necessidades de conversar, tomar um café sem ser interrompidos? Claro, quem não tem? Mas somos adultos, estamos há um bom tempo nesse mundo maluco e aprendemos a lidar com nossas frustrações (ou quase rsrsrs), mas e as crianças, especialmente os bebês? Se a vida é tão cruel, e se vamos passar tanto tempo de nossas vidas como adultos, me pergunto por que adiantar as coisas? Por que os bebês e crianças não podem ter suas necessidades atendidas o máximo possível? Repito que acho possível satisfazer pais e filhos para que todos possam ser felizes, não acredito que um pai/mãe frustrado/infeliz seja capaz de atender as necessidades de uma criança.

“Em nossa sociedade já não se pode falar em patriarcado e matriarcado. O que temos realmente, salvo exceções interessantes, é a ausência de definições de papéis, de quem assume o que em relação à família ou aos filhos. As pessoas vivem com medo de ser criticadas, de assumir que tiveram a coragem de fazer uma opção pela família. O que se propõe? A volta da mulher à condição de dona de casa e rainha do lar? Claro que não, o que se propõe é a conscientização da paternidade e maternidade. Crianças choram a noite, nem sempre dormem bem, precisam de cuidados especiais, de limpeza, de banho, alimentação, ser educadas e acompanhadas até idade adulta. Será que todos os seres humanos precisam ser pais? Sejamos sinceros, nem todo mundo está disposto a arcar com esse ônus. Talvez seja melhor adiar um projeto de maternidade, e mesmo abrir mão dessa possibilidade, do que ter um filho ao qual não se pode dar atenção, carinho e, principalmente, presença constante.” (A Criança Terceirizada, José Jose Martins Filho)

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Vergonha Alheia

Outro dia olhando as fotos que postei das minhas filhas em uma rede social senti vergonha, não por mim mas por elas, e olha que geralmente eu sou bem seletiva com fotos e vídeos, guardo (pelo menos eu achava que sim) as mais desconcertantes só para mim.

Quando nos tornamos mães parece que esquecemos que já fomos filhas, que aquela mini pessoa tem vontades, sentimentos, vergonhas... assim como nós. Lembra como era constrangedor sua mãe contar para suas amigas ou namorado aquelas arteirices, gafes ou mesmo mostrar aquelas fotos que você gostaria que nunca tivessem sido tiradas? 

Já parou pra pensar que às vezes fazemos pior com nossos filhos? "Nãoooo, eu nãooo". Faz sim! Eu fiz, e estou me policiando pra não fazer mais. Quem nunca contou para tooooodoooooos os amigos da rede social, daquele grupo de mães ou até publicamente que seu filho fala "boiaba" que atire a primeira goiaba, que nunca postou uma foto da cara melequenta de doce (sorvete, chocolate, etc.) ou da arte do dia? Hum?! Hahaha se entregou né?

Tentou imaginar que essa miniatura de pessoa que hoje tem meses ou poucos anos daqui a algum tempo já estará um adolescente e todas as lindezas que a mamãe  e o papai postaram na web estarão disponíveis para a zuação dos amigos (e inimigos)? A gente não vai ter nem o trabalho de constrangê-los em casa, faremos na internet rsrs (sem querer, mas teremos feito anos antes). E como aquela sua amiga vai conseguir olhar aquele rapagão barbado sem segurar o riso ao lembrar do vídeo que foi compartilhado alguns anos atrás dele correndo pelado pela casa, com um penico na cabeça gritando "eu sou o menino maluquinho"?

Se tentarmos esquecer por um momento que somos mães, que achamos mega fofas as gafezinhas, caretas e arteirices, vamos conseguir perceber que, apesar de fazermos sem maldade alguma, estamos constrangendo nossos filhos e futuramente eles poderão se ressentir muito conosco por termos agido dessa forma. De agora em diante vou me esforçar ao máximo pra filtrar o quê publico sobre minhas filhas e tentarei me colocar no lugar delas imaginando o quanto isso me constrangeria e se ao menos um pouquinho me envergonhar vou optar guardar a foto para quando eu estiver velhinha, puder olhar pra ela e lembrar de como minhas meninas foram crianças engraçadinhas e adoráveis. Eu estou tentando me policiar, e você?


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Ter filhos é caro?

Quando engravidei da minha filha mais velha recebi uma série de "dicas" como: "aproveite para dormir muito agora porque depois...", "não fique pegando muito no colo, senão mima demais a criança", "não coloque para dormir na sua cama porque isso acaba com a vida do casal" - conselhos completamente dispensáveis e inverídicos (ao menos no MEU caso), mas esse não é o foco, um dos que mais nos preocupou foi "xiiiii, filho dá um gasto! É fralda, leite, escola..., faça economias, abra uma poupança!", juro que cheguei a perder o sono e fiquei pensando "meu Deus, de onde vou tirar o dinheiro?" a vida já era bem difícil sem filhos, com eles então... o quê seria de nós?

Vamos por partes rsrsrs Hoje mais velha, mais amadurecida, mais experiente posso refletir melhor sobre o assunto e concluir que não é beeeem assim. Vou falar primeiro do leite: com a primeira filha a falta de experiência, a ingenuidade, a falta de informação e de confiança me fizeram dar "complemento" aos 3 meses, isso porque eu precisava voltar à faculdade e a pessoa que ficaria com minha filha no horário das aulas não deu o apoio que eu precisava (hoje sei que não foi por maldade, mas por não ter informação adequada) e eu fiquei nervosa com isso, coincidiu com o primeiro grande salto de desenvolvimento, meu seio que até pingava leite da noite para o dia "murchou" e se ajustou à demanda de minha filha (coisa que eu não sabia), desesperada pedi ajuda ao pediatra que não me apoiou/explicou sobre isso e achou mais fácil receitar o "complemento", resultado disso tudo? Gasto enoooormeeee com leite artificial que, vamos combinar, minha filha não precisava. Aí elimino primeiro gasto da lista, a segundinha no alto de seus 8 meses nunca soube gosto, cor, cheiro de leite artificial, pois munida de informação não permiti que isso entrasse em sua vida, mesmo o pediatra receitando com menos de um mês porque minha filha não ganhava o peso de acordo com a curva (oi?).

Outro grande gasto é o de fraldas, que quando boas são caras além do prejuízo ecológico, com a mais velha foram caixas e mais caixas, a segunda usa menos mas também já gastei um bom tanto (sorte que ainda estou usando as do chá de fraldas) e vou começar a gastar menos ainda, porque descobri as fraldas de pano modernas que são bem mais práticas e bonitas do que as usadas por nossas mães no passado. A princípio, tenho que confessar, tive um certo preconceito, achei meio retrógrado, e fiquei pensando como eu as secaria no meu nano apartamento na mais que minúscula área de serviço, mas depois de conversar com quem as usa, participar de grupos descobri que não é um bicho de sete cabeças e vale o investimento inicial, que é meio alto mas compensa a longo prazo.

Claro que estou falando das MINHAS escolhas, cada um faz o quê acha melhor, como acha melhor, se acha melhor. EU estou feliz com as escolhas que fiz e desde que não afetem a mim, minhas filhas e minha família, não me interesso pelas escolhas alheias. 

O quê eu percebi que realmente economiza é na escolha do que minhas filhas irão consumir, nisso eu incluo alimentos e brinquedos. Para quê gastar uma quantia realmente alta em um tapete de atividades se um "cafofinho" feito com edredons é muito mais gostoso? Por que pagar uma fortuna em um brinquedo lindo, pedagógico, com luz, som e sei lá mais o quê se uma simples fita de cetim faz a felicidade da minha pequena? Qual o sentido de comprar um duende que conta histórias se eu mesma posso lê-las para minhas filhas, todas aconchegadinhas no colchão? Por que pagar caro em um biscoito só porque tem vitaminas, ferro... se eu posso cozinhar (ao mesmo tempo que preparo o almoço/jantar da família) um bolo, biscoito ou algo simples e gostoso que contém um ingrediente que nenhuma indústria é capaz de produzir: amor de mãe.

Vendo uma propaganda de uma mesa de atividades outro dia comentei com meu marido "olha amor, que lindo!!!", aí parei, pensei e disse pra ele "essas propagandas não são feitas para as crianças, são feitas para os pais pensarem que precisam disso e nossa filha realmente não precisa. As crianças da nossa geração e as anteriores desenvolviam muito melhor sua motricidade sem precisar desse tipo de coisa".

As coisas são bem mais simples do que parecem, a gente é que complica, e só descobri isso (infelizmente) com a segunda filha. Na minha primeira gravidez fiz planos, tive sonhos, imaginei coisas mil vendo aquelas revistas sobre bebês, me frustrei porque não pude realizar nada daquilo. O quartinho perfeito com nuvens pintadas no teto, berço, cômoda e guarda roupa combinando, trincando de novo, enxoval maravilhoso escolhido peça a peça, ensaio de gestante, ensaio de newborn... o quê minhas posses permitiram: estrelinhas compradas em lojinha barata coladas no teto, berço semi novo ganho na vaquinha do pessoal do departamento do marido, cômoda que foi do meu primo depois da minha avó recauchutada com pintura feita pelo marido e puxador de borboleta baratinho comprado em loja de artesanato, guarda roupa só teve um que era nosso depois que ganhamos um usadinho maior, enxoval de roupinhas usadas (praticamente novas) vindas de amigos e parentes (comprei uma ou duas peças, o restante das novas foram recebidas de pessoas que vinham visitar ou mandavam de presente), fotinho de grávida tirada do jeito que foi possível com a câmera velha, fotos do nascimento e do recém nascido tiradas com a máquina emprestada da minha irmã (só tivemos condições de comprar uma nova e melhor quando Hannah tinha 5 meses, e ainda assim mega parcelada), apesar disso tudo (que me frustrou por muuuitoooo tempo) nossa filha cresceu feliz, bem, saudável ou seja, não precisava de nada daquilo que eu achei que precisasse e que me chateava cada vez que as pessoas me diziam que aquilo era bobagem (agora eu concordo com elas).

O quê eu quero dizer com tudo isso? Que minhas filhas não precisam de tapete de atividades, duende que conta história ou qualquer outra coisa que tira a graça da infância e me afasta da maternidade. Eu posso dar tudo de melhor à elas sem me render ao que as empresas querem que eu pense ser necessário, posso me sentar ao lado da cama de minhas filhas e ler histórias com elas, podemos inventar brincadeiras, criar cafofos e cabanas de lençóis, travesseiros e edredons e nos divertirmos tanto quanto se tivéssemos brinquedos caros e que logo serão esquecidos. A "dica" de que ter filhos é caro e necessita de preparação financeira acaba não sendo tão verdadeira quanto eu acreditei por tanto tempo, a experiência e maturidade hoje me permitem ver as coisas de outra forma, e creio que daqui há alguns anos melhor ainda. A lição que tirei disso tudo? SIGA SEUS INSTINTOS - SEMPRE, ouça conselhos e dicas mas filtre e guarde só o que for realmente útil.

terça-feira, 9 de julho de 2013

"Lefante"

Três biscoitos wafles ajeitados cuidadosamente por ela no pote:
- Mãe, o quê é isso?
- Um barco?
- Nããããõo, que é?
Inúmeras tentativas depois, ela dá a dica:
- Ele é "zul" assim (aponta minha camiseta), tem um negocinho assim e faz "vuuum".
- Uma moto?
- Nãããooo, que é?
Depois de muitas tentativas:
- Não sei filha, o quê é?
- Um "lefante" - diz com a cara "é óbvio".

Para onde foi minha imaginação? Lembrei do livro de Antoine e cheguei a conclusão de que estou na triste idade de pessoas que não são mais capazes de ver carneiros em caixas, elefantes engolidos por cobras, elefantes feitos em biscoito wafler ou qualquer coisa que dependa da imaginação pura, ingênua, simples.